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Autor: Júlio Bernardes
23 de Abr de 2010
Entre 76 espécies de serpentes da Serra do Mar, localizada entre os estados do Espírito Santo e do Rio Grande do Sul, 15 apresentaram maior vulnerabilidade à extinção. A advertência vem de uma pesquisa realizada no Instituto de Biociências (IB) da USP. O trabalho do biólogo Victor Vettorazzo utilizou um conjunto de características próprias de cada espécie para determinar quais delas possuem maior risco de extinção. Os resultados do estudo podem colaborar com a preservação dessa fauna, sevindo como base para direcionar os esforços de conservação da Mata Atlântica.
De acordo com o biólogo, há uma grande dificuldade em fazer registros populacionais mais detalhados das serpentes, pois são animais de difícil localização. "Mesmo trabalhos que utilizam coleções com um grande número de registros podem representar apenas um grande esforço de coleta, mas não a verdadeira situação dessas populações", aponta. "Normalmente, os fatores intrínsecos das espécies são usados em estudos sobre a vulnerabilidade de aves e mamíferos, mas estudos desse tipo ainda são raros em relação aos répteis."
Ao todo, oito fatores foram analisados: tamanho máximo, tamanho médio da ninhada, grau de especialização alimentar, especialização em habitat, área de distribuição geográfica, amplitude climática ou latitudinal de distribuição, amplitude altitudinal de distribuição e capacidade de colonizar áreas alteradas pelo homem. "O estudo demonstrou que o tamanho das espécies tem menos importância, enquanto a distribuição geográfica e a persistência em regiões alteradas pela ação humana, como áreas urbanizadas, apresentou maior relevância", ressalta o biólogo.
Para cada característica, foi atribuído um valor entre zero e 3, a partir dos quais foi feita uma média, obtendo-se o Índice de Vulnerabilidade Natural de cada espécie. "As mais vulneráveis apresentam médias superiores a 2,1, enquanto as que correm menos riscos tiveram índices entre zero e 1", conta Vettorazzo. Calcula-se que a Serra do Mar possua entre 80 e 90 espécies de serpentes. "O estudo envolveu 76 espécies, das quais 15 apresentaram alto grau de vulnerabilidade e 13 possuem menores índices de vulnerabilidade, com as demais se situando em uma faixa intermediária."
Distribuição
As espécies mais vulneráveis têm como característica comum a distribuição geográfica muito restrita. "A Corallus cropanii, com o maior índice (2,9), só possui quatro registros, concentrados entre as cidades de Itanhaém, Peruíbe e Eldorado, no litoral sul de São Paulo", relata o biólogo. "Em seguida, há a jararaca-ilhoa (Bothrops insularis), com índice 2,6, encontrada apenas na Ilha da Queimada Grande, em Peruíbe". A cobra-da-terra (Atractus trihedrurus) e a Bothrops alcatraz, espécie de jararaca encontrada na Ilha de Alcatrazes, no litoral paulista, obtiveram índice 2,5.
A distribuição geográfica foi avaliada a partir dos registros existentes no Instituto Butantan, em São Paulo. "Durante a pesquisa também foram enviados questionários para pesquisadores que trabalham com serpentes para identificar espécies encontradas apenas em áreas preservadas ou que eram comuns em regiões urbanizadas", diz Vettorazzo. Com exceção das espécies encontradas em ilhas, as mais ameaçadas possuem poucos registros. "A tendência é que elas se tornem ainda mais raras caso o desmatamento persista", acrescenta.
O resultado da pesquisa foi comparado com a "Lista Vermelha Global" elaborada pela União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN), sediada na Inglaterra. "A listagem da IUCN se baseia principalmente na distribuição populacional, mas ao se levar em conta outros fatores, houve uma coincidência com a relação de espécies mais ameaçadas levantada pelo trabalho", explica o pesquisador. As informações do estudo também foram confrontadas com as listas de espécies ameaçadas no Brasil e dos estados atravessados pela Serra do Mar.
Com relação à comparação entre listas-vermelhas regionais, a serpente surucucu (Lachesis muta) parece ter maior vulnerabilidade em algumas regiões, mas não em escala global. "A partir das conclusões do trabalho, novos estudos devem levar em conta fatores extrínsecos, diretamente relacionados à ação humana", conclui Vettorazzo. O estudo faz parte da tese de mestrado apresentada pelo biólogo no último mês de fevereiro, com orientação do professor Márcio Martins, do IB.
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