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A lenta resposta do governo às manchas de óleo no Nordeste

O Globo, Opinião, p. 2
08 de Out de 2019

A lenta resposta do governo às manchas de óleo no Nordeste
Presidente determina investigação um mês depois de começarem a surgir os primeiros sinais de poluição

No último sábado, o presidente Jair Bolsonaro determinou que seja investigada a origem das manchas de óleo que vêm aparecendo em praias do Nordeste. A decisão, publicada em edição extra do Diário Oficial, estabelece que Polícia Federal, Marinha, Ibama e ICMBio apurem as responsabilidades pelo desastre ambiental. A investigação, por óbvio, é necessária, mas chama a atenção o fato de que o governo só tenha despertado para o problema quase um mês após surgirem os primeiros sinais.

As manchas começaram a chegar à costa de Pernambuco no início de setembro e, desde então, a lista de localidades só tem aumentado. Um balanço do Ibama divulgado no último domingo mostra que já foram afetadas 132 praias dos nove estados do Nordeste - o último foi a Bahia. Ao menos 61 municípios foram atingidos pelo derramamento. Segundo o Ibama, 74 praias ainda tinham resíduos de óleo no último domingo. As mais prejudicadas são as do Rio Grande do Norte.

Não se trata de questão menor. O governo de Sergipe, por exemplo, decretou situação de emergência. Lembre-se que o turismo é indústria essencial para a economia dos estados do Nordeste, e as praias são o ativo mais valioso. Nesse sentido, o impacto é inexorável. Sem falar nos prejuízos ambientais - segundo o Ibama, a fauna já está sendo afetada em diferentes regiões. O projeto Tamar, de preservação de tartarugas marinhas, teve de suspender algumas atividades.

Embora o problema esteja sendo acompanhado por órgãos ambientais da União e dos estados, ainda pouco se sabe sobre as causas do desastre. Pelo tipo de resíduo encontrado, suspeita-se que o óleo tenha a mesma origem, provavelmente do exterior - a Petrobras informou que o material não é produzido ou comercializado pela companhia. Uma das hipóteses é que algum navio tenha descartado óleo bruto no mar ao limpar os tanques, uma prática irregular.

Espera-se que agora, a partir da determinação do presidente, possa se descobrir a origem das manchas, para que se apurem responsabilidades. De qualquer forma, ficam algumas lições. Uma delas é que o pouco-caso com o meio ambiente, aliado ao desmantelamento dos órgãos ambientais, deixa o país vulnerável.

Outra é que acidentes desse tipo em águas internacionais precisam ser discutidos em fóruns multilaterais, pois deixam nações à mercê de problemas que não estão sob seu estrito controle. Mas também nesse caso pressupõe uma preocupação maior com o meio ambiente e a disposição para o debate em órgãos multilaterais, assuntos pelos quais o atual governo parece não nutrir simpatia.

O Globo, 08/10/2019, Opinião, p. 2

https://oglobo.globo.com/opiniao/a-lenta-resposta-do-governo-as-manchas…

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