VOLTAR

Leis e gás carbônico

CB, Brasil, p. 12
18 de Nov de 2007

Leis e gás carbônico
Câmara dos Deputados produz poluição equivalente a uma metalúrgica de tamanho médio. Projeto da Frente Ambientalista prevê o plantio de 12 mil mudas de árvores para diminuir emissão da substância

Leonel Rocha
Da equipe do Correio

Além de escândalos e leis, o Congresso Nacional também produz muito gás carbônico. Segundo cálculos feitos pela empresa Max Ambiental, só na Câmara o trabalho dos 513 deputados e de toda a estrutura que assessora cada gabinete, as lideranças partidárias e comissões temáticas gera por ano cerca de 2,4 mil toneladas de CO², um dos mais potentes gases causadores do efeito estufa e vilão do aquecimento global. É poluição equivalente a uma metalúrgica de tamanho médio. A medição foi feita depois que a Câmara decidiu implantar um programa para reduzir a emissão da substância e plantar árvores que vão compensar o estrago já feito ao meio ambiente.
Para neutralizar a emissão de CO², até o final do mês serão plantadas 12 mil mudas de árvores pela organização não-governamental SOS Mata Atlântica, parceira da Câmara no projeto, em uma área remanescente de mata ciliar na cidade de Itu, interior de São Paulo.
A floresta da Câmara terá 87 espécies diferentes e ocupará quase oito hectares. A iniciativa da Frente Parlamentar Ambientalista, a maior do Congresso, estimulou programa idêntico no Senado que também decidiu medir quanto gera de gás carbônico o trabalho dos 81 parlamentares. "A aprovação de uma lei para o setor deixou de ser uma briga entre ambientalistas e produtores rurais. Cada parlamentar ficará sabendo que quando vota uma lei de proteção ambiental está tratando de tema relevante e de âmbito mundial", avalia o presidente da SOS Mata Atlântica, Mário Montalvani.
Pequena cidade
A maior emissão de CO² da Câmara fica por conta dos resíduos orgânicos produzidos pelos mais de 10 restaurantes e lanchonetes espalhados nos 300 mil metros quadrados da Casa, que engordam os parlamentares, 20 mil funcionários e o formigueiro de visitantes.
Além dos rejeitos de alimentação, os cálculos sobre o consumo de energia elétrica na Câmara mostraram que naquela Casa gasta-se megawats equivalentes ao que consome uma cidade com 25 mil habitantes. Mesmo sendo uma atividade administrativo-burocrática, com baixa emissão de poluentes, o estilo arquitetônico de Oscar Niemeyer obriga a utilização intensa de ar-condicionado e iluminação artificial, elevando a emissão de poluentes.
Em seguida, vem o consumo de energia elétrica. Depois, a gasolina queimada nos carros que servem aos deputados. O vai-e-vem das viagens aéreas semanais dos parlamentares entre seus estados de origem distantes mais de 1,6 mil km de Brasília ficou em quarto lugar no ranking da emissão do CO² (veja tabela). Para calcular a quantidade do gás emitido nas viagens aéreas, a Max Ambiental considerou a variação no consumo de combustível nos vôos curtos, médios e longos. O cálculo mostra que quanto mais curta, mais poluente a viagem em razão da maior resistência do ar. O elevado consumo de combustível de automóveis ajuda a ampliar a emissão de CO². Só nos estacionamentos para funcionários e visitantes existem mais de mil vagas.
Meta por gabinete
O inventário é científico e foi realizado sob a coordenação do programa Eco-Câmara. A medição do próximo ano vai calcular quanto cada gabinete do Legislativo produz de CO². A meta individualizada permitirá que cada parlamentar adote medidas para reduzir o consumo de energia, combustível e papel, por exemplo. Nos últimos anos, a coordenação do programa Eco-Câmara vem reduzindo o gasto de energia e a geração de resíduos poluentes. "O plantio de árvores para compensar a poluição gerada não pode servir de indulto para que a Câmara ou qualquer outra instituição continue gerando muito CO². É fundamental reduzir as emissões futuras", alertou o deputado Sarney Filho (PV-MA), presidente da Frente Ambientalista. Ele é o autor do projeto já aprovado na Comissão de Constituição e Justiça que reduz para 4% a meta do total de emissões de gases responsáveis pelo efeito estufa no Brasil até 2012, abaixo dos 5,2% da meta estabelecida no protocolo de Kioto.
O lobby ambiental vem dando certo no Congresso. O Legislativo já aprovou cerca de 40 leis com impacto direto no meio ambiente desde a Constituinte de 1988. Entre elas, o texto que definiu a Mata Atlântica como bioma a ser preservado e o Código Florestal, que obriga a proteção de 80% das fazendas na Amazônia. A nova meta dos ambientalistas é conseguir aprovar no Congresso o projeto que estabelece normas para o recolhimento dos resíduos sólidos.

Empresas começam a reduzir poluição

A bandeira pela neutralização da emissão de gás carbônico contaminou as empresas. Elas passaram a medir quanto jogam de CO² no ar e estão, sem a obrigatoriedade estabelecida por leis, estabelecendo metas para reduzir a emissão do gás. Em parcerias com organizações não-governamentais ambientalistas, passaram a cultivar árvores, auxiliando a recompor biomas importantes como a mata atlântica e o cerrado. Em Brasília, um dos pioneiros da campanha é o restaurante Porcão. Em 12 meses, a contar de junho do ano passado, a churrascaria emitiu 506,4 toneladas de gás carbônico. Para minimizar inteiramente a poluição, vai plantar no próximo sábado 2,5 mil mudas nas margens do rio Urubu, um dos principais afluentes do Lago Paranoá. Na mesma área serão cultivadas outras 103 mudas nativas para compensar a emissão de CO² medida na loja Body Island.
O plantio das árvores será feito pela ONG ambientalista Amigos do Futuro, encarregada dos programas das duas empresas. Serão oito mudas típicas da mata ciliar do cerrado por hectare.
A churrascaria e a loja de moda praia já fazem coleta seletiva de lixo, educam seus funcionários e ganharam o selo verde emitido pela entidade, identificando quem tem responsabilidade ambiental. "A intenção é que as empresas incluam nos seus custos operacionais a poluição gerada pelo negócio. O plantio de mudas é apenas uma parte do programa de redução da poluição que a empresa deve fazer", explicou a dirigente da Amigos do Futuro, Rejane Pieratti.
Outro exemplo que animou os ambientalistas foi o da distribuidora varejista Martins, de Uberada, a maior do mundo no ramo. A empresa aderiu aos programas de redução da poluição. Na compra que fez no ano passado de 5 mil caminhões, exigiu dos fornecedores um veículo com baixa emissão de CO². A Volkswagen topou o desafio e ganhou a licitação. Para cada caminhão adquirido, a Martins resolveu plantar 12 mudas de árvores. Os ambientalistas já estão negociando programas parecidos com organizações gigantes como Banco do Brasil, Bradesco e Correios (LR).

CB, 18/11/2007, Brasil, p. 12

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.