VOLTAR

Lei proíbe desmatamento no Pantanal de MS

OESP, Vida, p. A16
04 de Jan de 2007

Lei proíbe desmatamento no Pantanal de MS
Norma promulgada no fim de dezembro pelo ex-governador Zeca do PT impede por 12 meses corte de vegetação em áreas alagáveis do bioma

Cristina Amorim e João Naves, ESPECIAL PARA O ESTADO

Uma lei promulgada no fim de dezembro pelo ex-governador de Mato Grosso do Sul Zeca do PT proíbe o desmatamento em áreas alagáveis do pantanal do Estado por um ano. Representantes de entidades ambientalistas vêem o texto como um passo importante para a preservação do bioma, mas temem por sua real efetividade.

A moratória se baseia em um projeto de lei do deputado estadual Pedro Teruel (PT), que ficou um ano engavetado. Ele condicionou acordo de líderes de partidos para votar a lei sobre a ampliação de usinas se também houvesse acordo pelo seu projeto.

A lei ainda precisa ser regulamentada, como lembra o secretário de Meio Ambiente, Carlos Alberto Said de Negreiro. "O prazo da proibição é de 12 meses, mas será que não é curto demais? Será que na área não alagável do Pantanal o desmatamento é permitido? São essas entre outras dúvidas que terão de acabar."

Segundo levantamento recente feito pelo Ministério do Meio Ambiente, o Pantanal apresenta 88,7% de remanescentes. Estudo feito há um ano pela ONG Conservação Internacional (CI) indica uma situação um pouco pior: 83% da cobertura vegetal. O maior quinhão da planície pantaneira fica em Mato Grosso do Sul, que também cortou mais: 65% do desmatamento da área alagável, em comparação com Mato Grosso, que desmatou 35% da área.

Para Sandro Menezes Silva, gerente do programa do Pantanal da CI, a moratória é um passo na direção da conservação do que resta do bioma. Contudo, ele teme que ela não seja efetiva. "Até que saia do papel leva um tempo. Exige divulgação e fiscalização. É o risco de toda moratória", afirma. "Muito desmatamento é feito de forma ilegal e esse continuará." O secretário afirma que há "uma equipe exclusivamente montando essa regulamentação para colocar a lei em prática".

A moratória não é válida para o planalto, onde ocorre o grosso do desmatamento no Estado. "Lá temos de pensar mais em restauração", diz Silva.

BRECHAS

Outra ONG, a Ecoa, de atuação local, lembra que o texto da lei, do jeito que foi promulgada, deixa uma série de brechas. Uma delas é o limite da planície alagada - que varia de ano a ano e não conta com marcos oficiais. "O texto é um avanço, mas é questionável. Em alguns lugares secam a área para ampliar a pecuária ou a fabricação de carvão", diz o presidente da Ecoa, Alessandro Menezes.

O Pantanal de Mato Grosso do Sul está coalhado por carvoarias ilegais, que aproveitam a madeira cortada para a ampliação de lavouras e de pastos para o rebanho bovino para alimentar o Pólo Minero-Siderúrgico de Corumbá e as siderúrgicas de Minas Gerais. A informação é parte do relatório preliminar da equipe do novo governo do Estado, entregue a Negreiro, mas velha conhecida dos habitantes do Estado. Há pelo menos dois anos um estudo semelhante foi feito, ainda na gestão anterior.

Outra brecha que existe no texto é a proibição de corte "com cota de altitude menor ou igual a 150 metros". O biólogo Alcides Faria, diretor da Ecoa, lembra que estudos da Embrapa indicam que as planícies alagadas começam a mais de 200 metros de altitude - a diferença fica desprotegida.

Durante o ano de moratória, o governo estadual terá de formar um grupo para estabelecer políticas de conservação próprias para o bioma - área alagável com uma rica biodiversidade e essencial para a saúde de rios que alimentam boa parte do Brasil e de países vizinhos.

A ONG SOS Mata Atlântica se comprometeu a ampliar sua atuação na região para fornecer levantamentos aéreos da situação do Pantanal, a fim de formar uma base histórica de informações sobre o desmatamento no bioma.

OESP, 04/01/2007, Vida, p. A16

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.