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Legal: madeira amazonica nas obras

OESP, Construcao, p.Cc 1
22 de Mai de 2005

Madeira legal para construção civil
Ongs, produtores de reservas extrativistas e empresários se unem para organizar e melhorar o comércio de madeira certificada
Lilian Primi
Um grupo de representantes de 11 reservas extrativistas comunitárias do Acre esteve em São Paulo na semana passada para negociar a safra 2005 de madeira. Num encontro promovido pelo WWF-Brasil e pelo Centro dos Trabalhadores da Amazônia (CTA), conversaram com 17 empresários, possíveis compradores para os 8 mil m3 de madeira autorizados para extração, e acertaram arestas que dificultavam os negócios.
Por exemplo: A troca de informações sobre as espécies de madeira disponíveis, que não são as que o mercado pede, estabelecer um preço único para a madeira padrão - entre R$ 1,1 mil e R$ 1,5 mil o m3-e definir a forma de entrega. "As comunidades podem retirar 92 espécies da mata, a grande maioria desconhecida", explica Estevão Braga, coordenador de mercado do Programa Amazônia da WWF-Brasil.
Desconhecidas, porém não "ruins". Braga acompanhou os produtores em um encontro com engenheiros da Construtora Gafisa. "Eles nos deram uma lista com as características da madeira que precisam. O CTA vai enviá-la de volta dizendo o que poderá fornecer", explica.
A Gafisa estuda também a possibilidade de treinar seus arquitetos para que façam pedidos de madeira pelas características físicas e não pelo nome da espécie. Isso ajuda a colocar no mercado madeiras como a tauari vermelho, espécie de boa resistência, rejeitada no Brasil porém muito usada na França como quadro de sustentação para janelas e portas.
"Isso implica uma revolução de conceito no mercado, que valoriza a espécie", explica Geraldo José Zenid, pesquisador da Divisão de Produtos Florestais-Laboratório de Identificação de Madeira do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT-USP)
O encontro rendeu ainda um acordo com a unidade do Senai de Itatiba, "para identificar e classificar as espécies, incluindo suas qualidades industriais", conta Braga. E uma turnê pelos ateliês da Vila Madalena, na região Oeste da cidade, todos compradores das comunidades e alguns pioneiros. "No ano passado comprei espécies que não conhecia, meio no escuro", conta Juliana Llussa, arquiteta da Llussa marcenaria, que fabrica móveis. "Me preparo para exportar. Vou precisar mais madeira este ano", diz.
Mesmo pagando mais caro, esses profissionais ganham confiabilidade no mercado, principalmente externo, quando podem identificar a origem da madeira. As comunidades têm o selo verde do FSC, reconhecido em todo o mundo.
Os organizadores acreditam que as comunidades vão vender o dobro do ano passado, ou seja, de 4 a 5 mil m3 de madeira. A produção nacional é de 25 milhões de m3 ao ano. O mercado externo consome 35% desse total, que inclui de 80 a 90% de toda a madeira certificada disponível. Isso explica em parte a quase total ilegalidade do setor. "De 70 a 85% da madeira que sai do amazônia não tem nenhum tipo de autorização", explica Braga.
O Brasil tem 3 milhões de hectares com florestas certificadas (incluindo os reflorestamentos), 25 mil hectares das comunidades extrativistas. O Estado de São Paulo consome, 6 milhões de m3, 70% disso na construção civil, que dificilmente consegue ter acesso à madeira certificada. "Esse acordo com a Gafisa é o primeiro passo para superar as dificuldades", diz Braga.

Mercado burla facilmente sistema de controle
O maior consumo de madeira na construção civil, segundo Geraldo José Zenid, pesquisador da Divisão de Produtos Florestais do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT-USP), é nos telhados das obras unifamiliares. "É o marceneiro quem diz como fazer, baseado nas madeiras tradicionais. Se muda a madeira, muda tudo", diz.
A madeira, neste caso, vem dos depósitos de bairro, e será legal, segundo a legislação brasileira, se vier acompanhada da ATPF, ou Autorização de Transporte de Produto Florestal, que no entanto não é muito confiável segundo o pesquisador.
Além das amazônicas certificadas, a alternativa são as de reflorestamento. A Tora, por exemplo, está lançando o Sistema Log, com kits de encaixe, criado especialmente para madeira maciça de silvicultura.
O IPT lançou um manual de identificação, com tabelas em que relaciona quais espécies podem substituir as tradicionais Peroba Rosa e Pinho do Paraná. Disponível no endereço: www. ipt.br/areas/dpf/pbm/manual

OESP, 22/05/2005, p. Cc 6

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