VOLTAR

Lagoa rara é descoberta no Parque de Jurubatiba

O Globo, Rio, p. 25
28 de Abr de 2006

Lagoa rara é descoberta no Parque de Jurubatiba

Paulo Roberto Araújo

Ela é tão pequena que nem nome tem. Única no mundo, a lagoa que ganhou o apelido de Atoleiro, descoberta no Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba, no Norte Fluminense, será assunto de capa da revista inglesa "Freshwater Biology", especializada em ecologia de lagos. Descoberta pelo professor Vinícius Fortes Farjalla, da UFRJ, a lagoa de cerca de dez metros quadrados é um dos poucos motivos para se comemorar hoje os oito anos de criação do parque, um patrimônio ecológico que ainda não tem sequer um plano de manejo para disciplinar a visitação e as pesquisas científicas. O Ibama, contudo, garante que o plano, em fase final, fica pronto ainda este ano.
Formada pela elevação do lençol freático, principalmente no período chuvoso, a Lagoa do Atoleiro é o corpo d'água com a maior concentração de carbono orgânico dissolvido já encontrado na Terra. Se ao longo dos anos a lagoa passar por um processo de clareamento da água, significa que alguma coisa estará acontecendo de errado nas altas camadas da atmosfera, que controlam a entrada da radiação ultravioleta no planeta.
- É um verdadeiro recorde mundial. São cerca de 160 miligramas de carbono por litro. Este carbono, de origem húmica, é semelhante ao húmus que colocamos em hortas, porém na forma dissolvida - explicou Farjalla, professor do Laboratório de Limnologia (estudo de lagos) do Departamento de Ecologia da UFRJ.
Professor pede mais atenção de Ibama para parque
Ainda segundo o professor Farjalla, a lagoa pode ser usada como modelo de ecossistema aquático nos estudos de perda da camada de ozônio e do aumento do efeito estufa. Ele acrescenta que a lagoa já está sendo monitorada e que os resultados são promissores.
- A lagoa é um grande indicador das mudanças climáticas. Se ela ficar mais clara ao longo dos anos, isso indica que aumentou o buraco na camada de ozônio e a incidência de radiação ultravioleta, que provoca a quebra do carbono, transformando-o em C02 (dióxido de carbono), que vai para a atmosfera atuando no efeito estufa.
O presidente do Fórum de Turismo da Costa do Sol, José Vasconcellos Júnior, não tem dúvida de que o plano de manejo é o principal instrumento para proteger e transformar o parque num produto turístico para toda a região. Ele foi criado em Carapebus e é o atual vice-presidente da Empresa de Turismo de Macaé:
- Precisamos saber o que é possível permitir e restringir, para não corrermos o risco de prejudicar a natureza intacta, como é o caso da Lagoa do Atoleiro - afirmou.
Com 15 mil hectares ao longo de 40 quilômetros do litoral de Macaé, Carapebus e Quissamã, o Parque de Jurubatiba, que tem 18 lagoas, é alvo de estudos feitos por cerca de cem pesquisadores de todos os níveis, de estudantes até cientistas reconhecidos internacionalmente.
- O Ibama tem que dar mais atenção à unidade porque a cada dia os cientistas fazem novas descobertas. Não adianta criar o parque e abandoná-lo - lamentou o professor Francisco Esteves, diretor do Núcleo de Pesquisas Ecológicas (Nupem) da UFRJ em Macaé.
As comemorações pelo aniversário do parque vão de hoje até domingo. O programa prevê palestras sobre reservas particulares de patrimônio natural, a posse do Conselho do Parque de Jurubatiba, visita aos caminhos
eco-rurais de Quissamã e, no domingo, "Caminhada da natureza", com percurso de dez quilômetros, no novo Circuito Pró-Jurubatiba. As reservas podem ser feitas pelos telefones (22) 2778-5330 e (22) 9831-8865.
Ao receber o prefeito de Quissamã, Armando Carneiro, ontem no Rio, o superintendente regional do Ibama, Rogério Rocco, afirmou que são injustas as críticas sobre a demora na elaboração do plano de manejo de Jurubatiba. Ele acha que os ambientalistas têm todos os motivos para festejar os oito anos do parque porque, das quatro etapas de estudos técnicos, só resta concluir a última, o que vai acontecer até o fim do ano:
- É um recorde nacional porque existem recursos de compensação ambiental da Petrobras, no valor de R$ 9 milhões, até para a indenização das propriedades particulares que estão no interior do parque. No Brasil, os planos de manejo costumam demorar décadas, como é o caso do Parque de Itatiaia, criado em 1970.
Segundo Rocco, Jurubatiba é um oásis verde em meio a áreas degradadas do Norte e do Noroeste Fluminense. A unidade preserva o ecossistema de restinga em meio a uma área de grande desenvolvimento populacional e industrial dos municípios produtores de petróleo.
- Os municípios estão unidos e querem ajudar o Ibama a proteger o parque, que é a maior riqueza ambiental da nossa região - disse Armando Carneiro.

O Globo, 28/04/2006, Rio, p. 25

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.