O Liberal-Belém-PA
12 de Fev de 2003
A Polícia Federal divulgou, ontem à tarde, os retratos-falados de dois dos quatro homens que renderam dois seguranças do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis e roubaram 22.500 autorizações de transportes de produtos florestais, as ATPFs, expedidas pelo Ibama.
Os retratos-falados foram feitos a partir das declarações dadas pelos dois seguranças que foram dominados pelos bandidos, que chegaram ao prédio do Ibama, por volta das 18 horas de domingo, 9. Portando armas de fogo, três deles entraram no prédio. O quarto homem permanceu do lado de fora, ao volante de um carro, aguardando o restante do bando. Segundo os dois seguranças, que compareceram ontem pela manhã ao prédio da PF, os dois bandidos são magros, usam cabelos curtos, têm os olhos castanhos e altura calculada em 1,70 metro.
Um aparenta ter 23 anos e outro, 25. Ao entrar no Ibama, ambos tinham armas de fogo. Segundo o assessor de comunicação social da Polícia Federal, o agente Fernando Sérgio Castro, a elaboração dos retratos-falados é o primeiro passo para que os federais possam chegar aos autores do roubo no Ibama. O segundo passo, acrescentou ele, é o resultado da perícia feita na sede do instituto, na avenida Conselheiro Furtado, e na picape Mitsubishi, do Ibama, que também foi levada pelos bandidos e abandonada em Castanhal.
Os laudos dessas perícias - que podem fornecer informações importantes, como as digitais dos assaltantes - deverão estar prontos na manhã desta quinta-feira, 13. Cada ATPF custa, no mercado negro, R$ 400, o que significa, considerando o total de 22.500 autorizações roubadas, que os bandidos levaram R$ 9 milhões em documentos.
Ao chegar ao Ibama, dois dos bandidos se apresentaram ao segurança. Eles carregavam duas caixas de papelão fechadas com fita crepe e disseram que era uma encomenda para a diretora. Quando um dos vigilantes abriu o portão, foi rendido pelos bandidos. Os assaltantes estiveram em três setores do Ibama - o de patrimônio, o de controle e o de fiscalização. O agente Fernando Sérgio de Castro disse que as investigações estão apenas em sua fase inicial e que a divulgação dos retratos-falados, aliada a outras apurações feitas pelos federais, deverá ajudar na procura pelos bandidos.
Ibama vai instaurar sindicância para saber
se houve participação de servidores
O Ibama vai instaurar uma sindicância para apurar o assalto do último domingo, quando os bandidos armados renderam seguranças e passaram mais de duas horas dentro do prédio vasculhando setores e documentos. Foram roubadas 22.500 cédulas de Autorizações de Transporte de Produtos Florestais (ATPFs) que ainda estão sumidas.
A diretora do Ibama no Pará, a interina Nilma Sarmento, disse que vai pedir ao presidente nacional do órgão, Marcos Barros, para criar uma sindicância e apurar se houve algum tipo de facilitação no roubo ou participação de servidores. "Vamos pedir a participação de representates da sociedade para que fique tudo bem transparente", prometeu.
Há pouco tempo expirou o prazo de uma sindicância que apurava contratos e ATPFs falsificadas sem que se chegassem aos responsáveis. Nilma informou que vai pedir a prorrogação do prazo que as investigações continuem. Há vários anos o Ibama vem encontrando casos de tentativa de burlar a fiscalização, tanto que a partir desse ano uma instrução normativa mudou o procedimento na emissão de ATPFs.
Antes os documentos eram emitidos em medidas geométricas que levavam em consideram as dimensões das árvores em pé na floresta. Muitos madeireiros que comercializam as toras em medidas chamadas Francon (em cubo já cortados) usam as ATPFs que sobravam em diferença para "esquentar" madeira retirada ilegalmente. Além do novo padrão as ATPFs são emitidas pela Casa da Moeda, para evitar falsificações.
Os números de série das ATPFs roubadas devem ser publicadas ainda essa semana. Listas estão sendo distribuídas para todas as unidades do Ibama no Brasil e também as secretarias de fazendo pelo País a fim de evitar que as madeireiras usem as notas frias. "Também estamos passando cartas ciculares para todos os sindicatos de madeireiros para que denunciem o uso dessas ATPFs", disse Nilma Sarmento. Ontem o Ibama em Belém voltou a funcionar normalmente, mas o levantamento completo do que foi levado só deve ficar pronto em uma semana.
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