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Kaiapó produzem óleo de castanha e dignidade

Amazonia.org.br -São Paulo-SP
23 de Fev de 2006

A série Negócios da Floresta mostrou, durante o último mês, um panorama do empreendedorismo nos estados da Amazônia Legal. Duas vezes por semana, o especial trouxe matérias sobre associações, comunidades e empresas apoiados pelo projeto Balcão de Serviços para Negócios Sustentáveis que, por meio do manejo florestal sustentável, transformam a matéria-prima em produtos que promovem o respeito ao meio ambiente, a inclusão social e a geração de renda.

A última reportagem da série traz a história dos Kaiapó no Xingu que, num trabalho que começou há cinco anos, agora começam a ver os frutos de sua produção de castanha e seguem projetando suas práticas de manejo sustentável. Leia também os Negócios da Floresta anteriores, com os links no fim desta matéria.

"Índios Kaiapó fecham negócio de mais de quatro mil litros de óleo de castanha em feira internacional". A notícia, de novembro de 2005, de certa forma emocionou àqueles que acompanham a trajetória desses índios. Essa notícia trata, mais especificamente, de três aldeias dos Kaiapó no Xingu: Baú, Mekrãgnotire e Pukanú. Com o trabalho do Instituto Raoni, criado pelo cacique Raoni em 2001, hoje os quase 1500 índios dessas três aldeias não têm mais sua história marcada pela atividade madeireira e pelo garimpo irregulares. Na década de 90, era esse o estigma desse povo, que escandalizava o país nos periódicos que tratassem da questão indígena.

Desde 2001, várias iniciativas vinham tentando criar alternativas econômicas para o povo da região. A Funai passou a se fazer mais presente na região, para remediar a difícil situação desses índios, e lideranças locais, como o próprio cacique Raoni, passaram a buscar apoio financeiro para a constituição de mini-indústrias no Xingu.

O governo belga apoiou a iniciativa. Com suporte econômico, as aldeias buscaram infra-estrutura para explorar o que tinham à mão: castanha. Máquinas para extração de óleo foram compradas. Mas, como produção exige mais do que estrutura, em 2001, assim como em 2002, as tentativas de organizar a produção foram frustradas. Em 2003, o Instituto avançou: lideranças conseguiram incentivar nas aldeias reflexões e iniciativas sobre organização e administração da produção. Parecia, então, que as atividades iam engrenar. Porém, pegos de surpresa por uma tragédia, em 2004 as aldeias perderam importantes lideranças num grave acidente na BR-163. Mas eles não desanimaram.

"Faltavam parceiros, faltava conhecer gente que nos ajudasse a aprender como construir algo", conta Luiz Carlos de Silva Sampaio, representante do Instituto Raoni. No ano seguinte, o Instituto se aproximou de Amigos da Terra - Amazônia Brasileira, conhecendo o Balcão de Serviços para Negócios Sustentáveis. Com apoio para todas as etapas da produção, o empreendimento com castanhas deslanchou: produziram seis mil litros de óleo, comercializando a totalidade da produção no Mercado Floresta, em São Paulo. "Poderíamos ter produzido mais", diz Luiz Carlos, "mas como era apenas o começo, achamos melhor ir mais devagar". Para 2006, a projeção é de produzirem dez mil litros de óleo, tendo em vista negócios com o comprador majoritário do último ano.

E os planos não param por aí, como explica o representante. Produzir óleo, segundo ele, é apenas o início de um aprendizado de gestão e de administração de empreendimento, pensado para ser realizado de maneira sustentável em todas as suas etapas. "Respeitamos o tempo da castanha, assim como respeitamos o tempo dos índios; se a aldeia está em festa, é para continuar na festa, não é para ir trabalhar", resume.

E aponta que a próxima etapa do empreendimento é tornar toda a produção, começando pela Terra Indígena do Baú, certificada. Para isso, atualmente está sendo feito o estudo do manejo da produção para que ela esteja de acordo com os critérios de certificação florestal do Conselho de Manejo Florestal (FSC) e certificação orgânica do Instituto de Biodinâmica (IBD).

A longo prazo, a idéia é "pegar o jeito" de administrar o negócio desse modo para que se possa implementar outros tipos de atividades: "nossa próxima tentativa provavelmente será o artesanato, pois temos teares tradicionais e outras coisas para mostrar, mas ainda podemos descobrir outras potencialidades na Terra Indígena".

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