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Juiz manda soltar segurança acusado de matar índio

Campo Grande News-Campo Grande-MS
Autor: Celso Bejarano Jr.
03 de Jan de 2006

O segurança João Carlos Gimenes, 29, preso na semana passada acusado de matar o índio guarani-caiuá Dorvalino Rocha, 39, na véspera do Natal, foi posto em liberdade ontem no final da tarde. Ele era mantido preso por força de um mandado de prisão temporária, cuja validade dura cinco dias e o prazo expirou ontem.

A delegada da Polícia Federal que conduz o inquérito, Penélope Automar Gama, tentou manter o segurança detido, mas não conseguiu. Ela pediu prisão provisória do acusado, medida que sustentaria o segurança atrás das grades por tempo mais longo. No entanto, o juiz federal Renato Toniasso, entendeu que a medida proposta pela delegada era desnecessária. A legislação brasileira garante a liberdade a um investigado por crime caso ele seja réu primário, tenha emprego, residência fixa e bons antecedentes. Pelo apurado até agora, o segurança preenche tais condições

De acordo com a policial, ela fundamentou o pedido de prisão do segurança com três argumentos:
1 - Garantir a ordem pública. Ela disse acreditar que no local onde ocorreu o crime, em Antonio João, existe uma tensão por conta de disputa de território envolvendo índios e fazendeiros.
2 - Os policiais federais ainda não concluíram as investigações acerca do assassinato e, no entender da delegada, a liberdade do acusado pode comprometer o trabalho.
3 - Por fim, a delegada tentou convencer o juiz federal dizendo que o segurança acusado de matar o índio mora próximo à fronteira e isso pode facilitar uma fuga.

O raciocínio da policial, contudo, não convencera o magistrado. O Ministério Público Federal concordou com a delegada e, se quiser, pode recorrer e tornar a pedir a prisão do acusado. Até ontem, o MPF não havia se manifestado a respeito da decisão da justição federal. Enquanto isso, João Carlos Gimenes, que confessou ter matado o índio, será investigado em liberdade.

Disputa pela terra - Gimenes prestava serviço de segurança na fazenda Fronteira, situada no município de Antonio João, a uns 400 quilômetros de Campo Grande, na fronteira com o Paraguai. Essa área fica numa região disputada por fazendeiros e cerca de 200 famílias de índios.

No ano passado, o presidente Lula homologou a terra, cerca de 9 mil hectares, como se ela fosse indígena. Contudo, medidas judiciais em curso impediram que os índios ficassem ali. No dia 15 de dezembro, policiais federais cumpriram ordem judicial, tirando os guarani-caiuá do local.

Agora, as famílias vivem como se fosse acampados do MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra) à beira da estrada. Gimenes disse que atirou contra os índios para se defender. Ele teria sido atacado por cerca de 20 guarani-caiuá que estariam armados com pedaços de pau e espingardas. Já os índios disseram que Dorvalino Rocha andava próximo a porteira da fazenda Fronteira em companhia de dois amigos.

Eles estariam desarmados e o segurança teria atirado sem motivo aparente. Os índios culpam os fazendeiros pela morte. Dorvalino foi morto com um tiro no pé e outro no peito. Os fazendeiros negam envolvimento no caso

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