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Jornal O Globo publica matéria tendenciosa contra a Comunidade da Marambaia


Autor: Carlos Eduardo Marques
20 de Mai de 2007

O Jornal O Globo, deste domingo traz em seu caderno Rio uma matéria sobre a Ilha da Marambaia. Infelizmente, O Globo não liberou esta matéria para não assinantes,
por este motivo não encaminho para Vocês. A matéria tem como título: Uma casinha lá na Marambaia. Marinha teme especulação: cada família quilombola reivindica 70
Maracanãs.

O mais interessante é que em uma matéria com este título imagina-se que será feita uma denuncia à respeito da especulação, ocorre que o próprio desenvolvimento da
matéria desmente seu título, uma vez que um oficial da Marinha lembra que terras quilombolas são inalienáveis, então a preocupação muda de rumo e a matéria afirma
existir um risco de superpopulação e de favelização da Marambaia. Ora mais uma pérola jornalística isso tudo em apenas dois parágrafos ( o título chama a atenção
para a exagerada área a a ser destinada a cada família "70 Maracanãs" e a matéria fala em favelização ???).
Não contente com essas incoerências o restante da matéria ataca o laudo antropológico e a atuação da ONG Koinonia. Um oficial diz ao reporter:
"- Não sabemos como a ONG chegou ao calculo de 16 milhoes de metros quadrado para 106 familias...é um relatório unilateral e tendecioso."
(aqui mais um belo exemplo de bom jornalismo, ora caberia ao jornalista ou ler o laudo antropológico ou procurar a sede da Koinonia que fica no Rio, e pedir explicação
ao antropólogo responsável pelo laudo).
A matéria ainda afirma que os quilombolas poderão destruir a Mata Atlântica (o que acho interessante é que a uns 3 meses atrás já discutíamos nesta lista o perigo
da utilização deste pseudo ecologismo para prejudicar as populações quilombolas, esta mesma empresa não percebe nenhum perigo para a Mata Atlântica por exemplo,
na atuação da mineradoras, siderúrgicas e empresas de celulose). A matéria também questiona a idéia da auto definição (a idéia que transparece é que a auto definição
deveria ser imposta de fora para dentro...). A unica vantagem desta matéria é que ela dá voz ao Procurador Daniel Sarmento que defende a cientificidade do laudo
antropológico.

Oficialmente esta inaugurada a campanha de ataques aos direitos quilombolas,e por conseqüência ao trabalho dos antropólogos, volto a repetir é necessário que estejamos
atento e respondamos a altura estes ataques, afinal de contas uma mentira dita várias vezes torna-se verdade. Quero lembra-los que em meados dos anos 90 o MST segundo
as pesquisas era um dos movimentos sociais mais queridos e respeitados pela população brasileira (teve homenagem até na novela, lembram-se) e após um ataque massiva
por parte da grande mídia este movimento perdeu prestigio e acabou por ser criminalizado.

Carlos Eduardo Marques- Mestrando em Antropologia e Membro do Observatório da Juventude da Faculdade de Educação/FAE da Universidade Federal de Minas Gerais/UFMG
e do Núcleo de Estudos Quilombolas/NUQ da Universidade Federal de Minas Gerais/UFMG

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