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Jogo pesado

Jornal Pessoal
Autor: Lúcio Flavio Pinto
28 de Mar de 2005

A Alumar, empresa instalada em São Luís, sob o controle da multinacional americana Alcoa, líder mundial do setor, vai se consolidar como a segunda maior produtora de alumínio do Brasil. Neste ano sua produção subirá de 368 mil para 420 mil toneladas de metal primário, só inferior à da Albrás, de Barcarena, com 450 mil toneladas.

As duas usinas utilizam energia da hidrelétrica de Tucuruí para chegar ao alumínio, o produto industrial que mais consome energia. No total são quase 1,5 milhão de quilowatts, ou metade da capacidade firme de geração da hidrelétrica, a maior inteiramente nacional do país. Equivale a 3% de todo consumo de energia do Brasil.

A Alumar gastará 138 milhões de dólares para adicionar 52 mil toneladas à sua capacidade de produção de alumínio. Investirá mais US$ 800 milhões (em torno de 2 bilhões de reais) para mais do que duplicar sua produção de alumina, o insumo do alumínio, das atuais 1,5 milhão de toneladas para 3,5 milhões.

Mas só iniciará essa nova fase depois que garantir a exploração da jazida de bauxita que possui em Juruti, no Pará. Na quinzena passada a empresa realizou audiência pública para o licenciamento ambiental da mina, projetada para 4 milhões de toneladas anuais do minério. As necessidades da Alcoa são atendidas no momento pela mina de bauxita do Trombetas, ao norte de Juruti, explorada pela Mineração Rio do Norte, controlada pela Companhia Vale do Rio Doce, do qual a Alcoa é sócia minoritária. A Alcan, a multinacional canadense que ocupa o segundo lugar no ranking internacional do alumínio, é sócia da Alcoa tanto na MRN quanto na Alumar. Outro parceiro no empreendimento em São Luís do Maranhão é a australiana BHP Billiton, maior mineradora do mundo.

O jogo, portanto, é entre gigantes planetários. É por isso que eles ignoram diferenças e divisas como as que separam o Pará do Maranhão. E tudo que se segue nessas realidades locais. O pior é que os residentes nessas localidades, ignorando esse jogo pesado, acabam pagando a conta ou pegando apenas as sobras.

A Alcoa, embora esteja trabalhando a ampliação da planta de alumina de São Luís, também joga com outras duas variáveis. A primeira prevê adicionar à mineração de bauxita de Juruti o refino de alumina, a etapa seguinte no processo de transformação da matéria prima. Mas essa hipótese só terá viabilidade a médio prazo, com a construção da hidrelétrica de Belo Monte, no Xingu, ou se o Tramoeste, que tem suas pontas em Itaituba e Santarém, prosseguir até Juruti.

A outra variável é Parintins, no vizinho Amazonas, caso a linha de energia de Tucuruí atravesse o rio Amazonas e chegue à margem esquerda antes de ser prolongada pela margem direita. Nesse caso, a fábrica de alumina da Alcoa podia também ser abastecida pela jazida do Pitinga, sob o controle da Companhia Vale do Rio Doce, em fase de avaliação.

Em qualquer hipótese, se não mudar o padrão do seu comportamento, o Pará vai ficar no início das etapas de beneficiamento do minério, abrindo buraco sem as devidas compensações. O Oeste do Estado sabe muito bem o que é isso. Há 25 anos o Trombetas fornece apenas bauxita para consumidores nacionais e internacionais, sem qualquer agregação de valor. Já a Caima, do grupo João Santos, há 15 anos mandava calcário de Itaituba para sua fábrica de cimento em Manaus enquanto vinha protelando o funcionamento de sua unidade local, que servia de reserva de mercado.

O inexorável tempo passa, as práticas não mudam e o resultado é o mesmo: quem compra os produtos do Pará enriquece, mas o Estado fica parado.

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