OESP, Caderno 2, p. D3
08 de Jan de 2007
João Carlos Martins emociona ao defender a Amazônia
Regendo a Orquestra Bachiana, ele lançou em Nova York o projeto Amazon Forever, para a preservação das florestas
Tonica Chagas
A falta de movimentos nas mãos, perdidos por causa de uma série de acidentes e enfermidades, não lhe permite segurar uma batuta e ele decora as partes de todos os instrumentos por não poder manusear as páginas das partituras. No entanto, num emocionante exemplo pessoal de superação que fez muita gente chorar na platéia do Carnegie Hall, o maestro João Carlos Martins começou, na noite de sábado, sua mais recente empreitada, a de pôr a música clássica na defesa da floresta amazônica.
Num concerto de estréia internacional dupla - a da Orquestra Bachiana de Câmara em sua primeira apresentação fora do Brasil e a da composição do belga Stefan Meylaers Suíte Amazonas para Piano e Orquestra -, Martins lançou o projeto Amazon Forever (Amazônia para sempre), com o qual pretende sair pelo mundo em busca de financiadores para o Programa Áreas Protegidas da Amazônia (Arpa). A meta do programa, criado em 2002, é preservar em dez anos pelo menos 50 milhões de hectares da maior floresta tropical do mundo.
A idéia de uma campanha pela Amazônia através da música clássica lhe foi dada no ano passado por um amigo que, segundo conta o maestro, 'se sentia chateado por ver um inglês, o cantor Sting, como o principal artista em defesa da floresta brasileira no exterior'. Martins, que nos últimos dois anos tem-se dedicado a várias ações sociais, entrou em contato com representantes do Arpa e, em menos de seis meses, conseguiu patrocínios de empresas como a Nokia do Brasil e a TAM e produziu o One Dollar Concert apresentado no Carnegie Hall. O espetáculo foi batizado assim porque, a fim de chamar a atenção do público para o seu objetivo, o preço simbólico dos ingressos para qualquer dos 2.804 lugares do teatro foi de US$ 1.
Desde os 20 anos de idade, Martins já se apresentou pelo menos uma dezena de vezes no Carnegie Hall como um dos maiores intérpretes mundiais de Bach ao piano. No sábado, ele voltou àquele palco pela primeira vez como regente, sua nova atividade de músico nos últimos dois anos. 'Agora, a orquestra é o meu piano', ele costuma dizer. E foi isso que a força e a alegria dele diante dos 27 músicos transmitiram no concerto, levando toda a platéia a aplaudi-los de pé. O programa teve quatro peças de Bach, a Suíte Amazonas e mais três obras de compositores brasileiros, a Serenata, de Alberto Nepomuceno, o Prelúdio Bachiana Brasileira no 4, de Villa-Lobos, e Mourão, de Guerra Peixe. No bis, novamente Bach, com os arranjos para piano e orquestra da Ária da Quarta Corda e dos prelúdios no 22 e no 23. Ao piano, o próprio João Carlos Martins tocando com apenas três dedos. O esforço de suas mãos quase completamente inertes demonstrava ser possível superar grandes perdas.
A intenção dele é fazer uma série de concertos Amazonas Forever em todos os países que puder, a fim de ajudar o Arpa a obter recursos financeiros para evitar maiores perdas das florestas do Amazonas, um dos mais necessários patrimônios naturais do planeta. Nas conversas que teve nos últimos dias com jornalistas, representantes de entidades ambientalistas e empresários americanos, Martins usou o fenômeno climático registrado no atual inverno nova-iorquino como um dos seus principais argumentos: 'Se Nova York está sem neve e com temperatura de 60 graus Fahrenheit (15 graus Celsius), é porque alguma coisa está errada com o meio ambiente.'
Um dos parceiros do projeto Amazonas Forever é o artista gráfico americano Milton Glaser, criador da marca I Love New York e autor das capas dos 31 CDs de João Carlos Martins. Para o Amazonas Forever, Glaser criou como símbolo a máscara de uma oncinha representando a Amazônia. Recursos obtidos na venda de produtos com essa marca também serão repassados para o Arpa, ao qual Martins promete se dedicar pelo resto da vida. 'Estou com 66 anos e meu pai viveu até os 102', lembrou ele, depois do concerto de sábado. 'Portanto, minhas chances são de ainda ter muitos anos pela frente.'
OESP, 08/01/2007, Caderno 2, p. D3
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