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Jamináwa: povo nômade há mais de mil anos

Página 20-Rio Branco-AC
26 de Jun de 2002

Deslocamento entre as cidades é uma característica cultural

A característica marcante do povo indígena denominado de Jamináwa é o nomadismo. Este povo está em freqüente mudança de localização de suas aldeias. Há mais de mil anos as etnias que formam esse povo se deslocam na região onde hoje se encontra o Estado do Acre, sobretudo entre o vale do Acre e do Purus.

As informações são do antropólogo Jorge Bruno Sales Souza, doutorando no assunto pela UnB. Bruno Sales veio ao Acre em 1999 para realizar relatório pericial para o Ministério Público Federal sobre a situação de mendicância dos Jaminawas na cidade de Rio Branco, Brasiléia, Sena Madureira e Assis Brasil. Apaixonou-se pelo tema e desenvolve hoje sua tese sobre a etnia indígena original do Acre.

Cerca de dez Jaminawas estão hoje perambulando pelas ruas da capital, mas retornam durante a noite para casas de parentes que moram a maioria no bairro São Francisco. Alguns deles, os mais idosos, têm até aposentadoria e mesmo após receber o dinheiro permanecem nas ruas pedindo roupas, objetos e qualquer tipo de produto industrializados.

"O fascínio pelos materiais produzidos pelo homem parecem exercer sobre eles um desejo pulsante de obter aqueles produtos, parece que criaram uma nova necessidade", diz Jorge Bruno.

O que mais impressionou o antropólogo foi o fato de eles não gostarem de se fixar em lugar nenhum. Preferem repetir a tradição de seus ancestrais e continuar sempre em movimento pelas regiões que hoje compreendem os municípios de Rio Branco, Sena Madureira, Assis Brasil e Brasiléia. Levam suas crianças, até recém-nascidos, e não fazem grandes exigências quanto à alimentação e moradia.

De acordo com o pesquisador, os Jaminawas dispõem de grande capacidade adaptativa a novos ambientes. Em geral, eles não se mostram preocupados em construir grandes habitações. Acham perfeitamente aceitável que alguém more durante meses, ou mesmo anos, em simples tapiris.

Segundo o antropólogo, uma das razões da característica nômade desse povo é a relação que eles têm com a morte. O depoimento do índio Lauro Jamináwa confirma que sempre que morre algum parente o grupo sai em busca de outros lugares. Consideram que permanecer no lugar de falecimento de um ente querido é muito triste.

Deslocamento para Rio Branco teve
início no final da década de 80

Os índios Jaminawas retornaram à região do município de Rio Branco, vindos de Sena Madureira, a partir do início da década de 90. Parte do grupo abandonou a região do rio Purus, por volta de 1989, e percorreram dezenas de quilômetros até o barranco do Rio Acre, motivados pela saída do cacique da tribo que ficou contrariado e decidiu partir. Desde então, tomaram as ruas da capital e causaram alvoroço na sociedade. Até hoje chocam os habitantes e não é difícil encontra-los em diversos bairros da cidade pedindo de porta em porta ou sentado nas calçadas. "É um povo que gosta de andar e de visitar os parentes espalhados pelo Estado", diz Éden Magalhães, o coordenador da ONG CIMI (Comissão Indigenista Missionária).

Segundo Magalhães, há um bairro em Brasiléia onde moram somente Jamináwas, e quando algum grupo chega lá e encontram o lugar lotado, passam pouco tempo e já partem imediatamente para outras regiões.

Para o antropólogo Bruno Sales, parece significativo o modo simples de apropriação dos recursos naturais da floresta pelos Jaminawas. Isso é importante para a compreensão do movimento constante desse povo. Há poucas restrições alimentares e eles são pouco afeitos à aventuras no interior da floresta. Viveram durante séculos apenas com os recursos encontrados nas várzeas e nas áreas mais próximas dos rios. Aproveitam muitos dos animais e peixes da região que são considerados impróprios pelos ribeirinhos e outros povos indígenas. Eles não dão muita atenção para a aquisição de alimentos. Por isso, são considerados por alguns como pouco aptos para a lavoura e a caça.

O contato com a cidade transformou os Jaminawas. Muito do seu antigo modo de vida se modificou. Eles criaram novas demandas impossíveis de serem satisfeitas com os recursos naturais do seu próprio habitat. Criaram a necessidade de bens industrializados, roupas sapatos e alimentos fabricados na cidade. Este contato alterou profundamente a cultura dos Jaminawa, embora todos falem a língua nativa.

Para o antropólogo Sales, entretanto, as transformações a que estão submetidos não significam uma diminuição de sua formação étnica. "Pode-se facilmente compreender que muitas dessas mudanças são ou foram, na realidade, estratégias de sobrevivência ao contato". O nomadismo é um traço que permanece mesmo com a aculturação sofrida pelos Jamináwas, causando incômodos e até repúdio nas sociedades acreanas que eles insistem em ocupar espaço. O espaço que originariamente eram deles.

Governo envolve projetos de pesquisas e formação

O Governo do Estado não tem legalmente a função de atuar como principal agente para fazer valer as garantias constitucionais à proteção dos povos indígenas. Mas, mesmo assim, faz parte da sua política de desenvolvimento sustentável a realização de projetos que contribuam para a preservação e apoio aos povos indígenas no Estado do Acre.

Além dos estudos sobre o impacto das BRs sobre os povos indígenas, o IMAC realizou em parceria com o Patrimônio Histórico, há dois anos, um levantamento sobre os Jaminawas nos municípios de Rio Branco, Sena Madureira e Assis Brasil. O objetivo do estudo foi reunir informações colhidas por estudiosos nas comunidades e grupos nômades dos Jaminawas para fornecer dados concretos que serão importantes no conhecimento desse povo e, a partir daí, tentar conduzir a complexa problemática da movimentação constante desse povo de forma adequada, sem pressão ou sem agressividade, respeitando as características culturais e, sobretudo, a liberdade de escolha deles.

Outro projeto realizado pelo Governo é a formação de professores com magistério específico para as escolas indígenas. Obrigatoriamente, eles têm de índios com formação no ensino regular. Se habilitam pela SEE para trabalhar no resgate da cultura em suas comunidades. Esse trabalho já se encontre em sua terceira etapa. Mês passado foram habilitados mais 62 professores. Atualmente no estado já foram capacitados e estão atuando 130 professores em escolas especificamente indígenas. O teve início no primeiro ano do governo Jorge Viana.

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