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Já são 35 crianças internadas

Diário de Cuiabá-Cuiabá-MT
Autor: ALECY ALVES e EVILÁZIO ALVES
01 de Mar de 2005

Nos últimos 60 dias, desnutrição infantil matou seis crianças indígenas; Funasa muda estratégia

Crianças indígenas de outras etnias recebem alimento das mães, e estão livres da desnutrição infantil

Subiu para 35 o número de crianças da nação Xavante internadas com desnutrição. Nos últimos 60 dias, seis crianças morreram de desnutrição nas aldeias Xavante.

Do total de crianças internadas, cinco estão no hospital municipal de Campinápolis, a 570 quilômetros de Cuiabá, e 30 na Casa de Assistência à Saúde Indígena (Casai), num prédio próximo do hospital. As 15 crianças que chegaram na Casai no começo do mês de fevereiro devem receber alta a partir de hoje, mas as outras continuarão recebendo assistência por tempo indeterminado.

Ontem, o coordenador da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) em Mato Grosso, Jossy Soares, anunciou mudanças na estratégia de atendimento aos Xavante. Ao invés de criar uma força-tarefa para levar cestas básicas até as aldeias, como havia informado na segunda-feira, Soares disse que os técnicos da Funasa vão estimular as mães a levar os filhos que apresentam problemas de desnutrição ao polo de saúde, para uma consulta médica. A idéia, conforme Jossy Soares, é fazer com que o médico prescreva os alimentos e mantenha a criança internada na Casai de Campinápolis até a recuperação da saúde e peso. A Funasa acredita que a medida inverterá a ordem do costume alimentar nas aldeias, pelo menos enquanto estiverem sob orientação médica, fazendo com que os alimentos sejam oferecidos primeiro às crianças.

É que pela cultura Xavante, o chefe da família é o primeiro a fazer as refeições, seguido da mulher. As crianças só comem se sobrar alimento. Ainda assim, as crianças pequenas, de um ou dois anos, disputam o alimento com as maiores, de 10, 12 e até 13 anos. O alimento é colocado em um grande recipiente, e as crianças se servem ao mesmo tempo.

Para assegurar que as crianças receberão os alimentos prescritos, Jossy Soares disse que o órgão estará reforçando o estoque de alimentos na Casai. "Nada nos asseguraria que as crianças seriam alimentadas se entregarmos mais cestas básicas nas aldeias", justificou o coordenador.

Soares disse que a Funasa não precisa de ninguém para apontar os problemas das aldeias, mas de parceiros para ações conjuntas. Com essa declaração, respondeu às denúncias do superintendente de Saúde Indígena do governo do estado, Idevar Sardinha. Num documento enviado a orgãos federais de saúde, Sardinha disse que já havia denunciado o problema da fome na nação Xavante. O posto de saúde construído pelo governo estadual dentro da aldeia Xavante, em Sangradouro, também está gerando conflito entre os dois poderes. Os índios e Idevar Sardinha reclamam da Funasa por não ter equipado e contratado profissionais para o posto, enquanto Soares diz que o prédio foi erguido sem anuência do órgão e acabou criando outros problemas. Antes dessa obra, os Xavante e Borosos eram atendidos, sem conflitos, numa unidade de saúde da Missão Salesiana. Agora querem postos individuais nas aldeias.

Em Brasília, o coordenador do Programa de Atendimento aos Xavante, Cláudio Santos, disse que solicitou da Funasa-MT um relatório sobre as mortes ocorridas nas aldeias de Campinápolis.

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