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Já foi tarde

Folha de Boa Vista -Boa Vista-RR
Autor: Jessé Souza
01 de Mar de 2005

A visita a Roraima do presidente da Câmara dos Deputados, o pernambucano Severino Cavalcanti (PP-PE), não deixa ou não deveria deixar nenhuma saudade ao povo trabalhador daqui. Afinal, hoje este parlamentar é símbolo da demagogia política e da mordomia parlamentar.
Elegeu-se presidente da Câmara fazendo promessas de defender reajuste dos salários dos deputados de R$ 12,8 mil para R$ 21,5 mil. Prometeu combater e acabar com a corrupção entre os deputados. E agora chega a Roraima como um messias prometendo lutar contra a homologação da área indígena Raposa/Serra do Sol, tudo o que os antiindígenas e a oligarquia local querem ouvir.
Atualmente os deputados federais ganham R$ 12,8 mil de salário. Mas recebem também R$ 3 mil de auxílio-moradia, R$ 7 mil de verba para despesas "comprovadas", além de R$ 3,8 mil de verba para assessores e R$ 35 mil de verba de gabinete mensal.
E não é só. Para trabalharem no recesso são mais R$ 25,4 mil, passagens aéreas de ida e volta a Brasília todo mês, direito de contratar 20 servidores para seu gabinete e ainda recebem 13 o e 14 o salários no início e no fim de cada ano legislativo. Como se não bastasse tudo isto, os nobres parlamentares ainda têm 90 dias de férias anuais e folga remunerada de 30 dias.
Cavalcanti representa os parlamentares do chamado "baixo clero" da Câmara dos Deputados - aqueles sem expressão política no Congresso e que precisam pagar ou manter a mídia em seus estados se quiserem aparecer ou continuar enganando seus eleitores.
Severino Cavalcanti não poderia deixar de vir a Roraima se encontrar com os representantes da oligarquia local. Porque no Estado onde se elegeu ele é a própria oligarquia, governando para poucos e aos pertencentes à família e ao seu grupo político.
Então, não se poderia estranhar que ele viesse engrossar a voz da elite local contra questão indígena, áreas de proteção ambiental e qualquer outro fator que possam impedir o avanço de seus negócios ou de seus projetos integrados ao grande capital, que não está interessado em saber de direitos de minorias, defesa do meio ambiente ou preservar florestas para que seja explorada racionalmente.
A oligarquia quer avançar os limites de suas propriedades ou dos grupos econômicos que eles defendem. Como são os poucos a gerar emprego (e renda para eles próprios), conta com o apoio da boa parte da população que precisa de trabalho para sobreviver, que em troca se deixa alienar pelos discursos demagogos e antiindígenas.
Para manterem o limite de sua dominação sem ameaças, ainda a oligarquia local prega a invasão de Roraima e da Amazônia pelos "gringos". O xenofobismo é tão eficiente quanto o antiindigenismo para esconder seus reais interesses e atacar quem prega a defesa de minorias, do meio ambiente ou uma política econômica que respeite a biodiversidade e uso sustentável de nossas riquezas.
Da mesma forma que incitam a população contra aqueles que representam um perigo para o avanço de seus negócios, os políticos conseguem manter o povo apático e sem ação diante da proposta de aumentar seus próprios salários.
Besta é quem pensa que a vinda de um representante da oligarquia e do coronelismo nordestino possa trazer algo de bom para o povo roraimense (os nordestinos que aqui vivem sabem como agem os coronéis de lá)

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