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IPCC faz declaração política sobre o clima

FSP, Ciência, p. A29
07 de Dez de 2007

IPCC faz declaração política sobre o clima
Grupo de 212 cientistas defende na Indonésia que governos assumam metas imediatas e obrigatórias

Claudio Angelo
Enviado especial a Bali

Cientistas do IPCC, o painel do clima das Nações Unidas, pisaram ontem pela primeira vez na arena política e defenderam metas obrigatórias, estritas e imediatas de redução de gases de efeito estufa.
Um grupo de 212 climatologistas lançou em Bali, na COP-13 (13ª Conferência das Partes da Convenção do Clima da ONU), um documento destinado aos governantes. A declaração pede que o regime climático pós-Kyoto seja concluído em 2009 e tenha uma meta de limitar o aquecimento do planeta em 2C. Para isso, os cientistas demandam que o nível de CO2, o principal gás de efeito estufa, seja estabilizado em 450 ppm (partes por milhão), o que significa um corte de pelo menos 50% nas emissões, em relação aos níveis de 1990, até 2050.
Entre os signatários está o Prêmio Nobel Paul Crutzen, um dos descobridores da relação entre CFCs e a destruição da camada de ozônio; vários dos autores principais do Quarto Relatório de Avaliação do IPCC; o diretor do Instituto Max Planck, na Alemanha, Martin Claussen; e os americanos Kerry Emmanuel e Kevin Trenberth, primeiros a sugerir a relação entre aquecimento global e aumento na intensidade dos furacões.
"Como cientistas, nós rogamos aos negociadores que considerem essa meta como o mínimo [a ser cumprido] no acordo", disse o australiano Matthew England, climatologista da Universidade de Nova Gales do Sul, em Sydney. "Esperamos ver essas metas refletidas no texto", afirmou o australiano Michael Molitor, consultor de clima e energia. É o mínimo, explicou England, porque os resultados do IPCC mostram que a estabilização em 450 ppm garante no máximo 50% de chance de manter o aumento de temperatura em 2C. Esse tem sido considerado por vários cientistas como o nível "seguro" de aquecimento global, acima do qual o planeta assistiria a efeitos em cadeia potencialmente catastróficos, como o degelo generalizado dos pólos e o aumento correspondente no nível do mar.
O objetivo de 2C foi incorporado à meta de estabilização da União Européia, mas vem enfrentando resistência de vários países -entre eles o Brasil. "O que estamos falando é de probabilidades, de riscos. Não existe um número mágico, assim como não há um número mágico de colesterol seguro, abaixo do qual você não vai ter um ataque cardíaco", disse o americano Richard Sommerville, um dos autores principais do relatório do IPCC.

Posição filosófica
Ao proporem essa meta, os cientistas signatários da Declaração do Clima de Bali estão fazendo o que o IPCC não pode fazer: propondo políticas públicas. O painel do clima, por ser um órgão estritamente científico, não pode fazer recomendações políticas. É isso em parte que garante a isenção dos resultados do IPCC -e o que garantiu que todos os governos, até mesmo a administração de George W. Bush, tenham endossado as conclusões do painel de que o aquecimento global é "inequívoco". O IPCC não diz, por exemplo, que as emissões precisam chegar ao pico nos próximos 10 ou 15 anos e declinar dramaticamente depois disso.
Embora esse resultado faça parte das conclusões do painel, ele é apresentado na forma de uma tabela com vários cenários possíveis. Cabe aos governos decidirem que caminho tomar. "Nós, membros do IPCC, enquanto indivíduos, podemos nos posicionar", disse à Folha o climatologista José Marengo, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), um dos dois brasileiros (o outro é Paulo Artaxo, da USP) que assinaram o documento. Para ele, que não sabe qual peso a declaração terá, essa posição "filosófica" é importante. "A mensagem é que existe uma base científica para falar em metas."
Leia mais no blog "Bali,40 graus": http://bali40graus.folha.blog.uol.com.br

FSP, 07/12/2007, Ciência, p. A29

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