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Investigação fecha cerco a ex-governador

OESP, Cidades, p. C8
17 de Out de 2004

Investigação fecha cerco a ex-governador
Procuradoria da República vê fortes indícios ligando Júlio Campos, do Mato Grosso, a assassinato

Marcelo Godoy

Os depoimentos de testemunhas, documentos e escutas telefônicas (Veja abaixo) são os indícios que apontam para o envolvimento do ex-governador de Mato Grosso (MT) e conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE), Júlio Campos, nos assassinatos do empresário Antonio Ribeiro Filho e do geólogo Nicolau Ladislau Erwim Haralyi. Com base neles uma força-tarefa da Polícia Civil de São Paulo obteve a decretação da quebra de sigilo telefônico do político. O objetivo é descobrir se Campos manteve relações com outros suspeitos da trama.
O geólogo foi morto em 20 de julho, em São Paulo, e o empresário, no Guarujá, em 5 de agosto. "O minucioso relato (da polícia) demonstra a existência de fundados indícios de que Júlio Campos foi o mandante do crime que teve como vítima o empresário Antonio Ribeiro Filho", disse a subprocuradora-geral da República, Cláudia Sampaio Marques. A quebra do sigilo foi concedida pelo ministro Antônio de Pádua Campos, presidente em exercício do Superior Tribunal de Justiça (STJ). O caso está no STJ porque Campos tem foro privilegiado por ser conselheiro do TCE.
A força-tarefa montada pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) e pela Delegacia Seccional de Santos enviou 12 homens para Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, chefiados pelos delegados Flávio Affonso Costa, do DHPP, e João Jorge Guerra Cortez, de Santos. A meta era apurar a alteração fraudulenta do contrato de propriedade da Agropastoril Cedrobom, dona de duas áreas com 99 mil hectares de terras em Aripuanã (MT) e Juína (MT).
LARANJAS
Os donos da Cedrobom eram o empresário Ribeiro e o filho, Marcos Ribeiro. O geólogo morto trabalhava para Cedrobom, estudando a jazida de diamantes na área, próxima da reserva dos índios cintas-largas, em Rondônia. A alteração no contrato da Cedrobom ocorreu em maio por meio da falsificação da assinatura dos donos. Assim as terras passaram para o policial aposentado Delci Baleeiro Souza e para a secretária Nauriá Alves de Oliveira, funcionários de empresas de Campos - eles tiveram a prisão decretada pela Justiça e estão foragidos.
Ribeiro Filho tentava reaver a empresa quando foi morto. Os delegados ouviram em Cuiabá o contador Carlos Alberto Almeida, que trabalha para o ex-governador. Almeida contou ter alterado o contrato da empresa a pedido de Campos. Escuta telefônica feita pela polícia flagrou os laranjas dizendo que o "dono" da Cedrobom era o ex-governador. As terras da Cedrobom pertenciam até 1986 ao governo do Mato Grosso. Naquele ano, o último do mandato de Campos, uma área de 228 mil hectares foi dividida em glebas e permutada pelo governador com propriedades em outras regiões do Estado. Os 99 mil hectares com seus diamantes, que estavam nas mãos do empresário Ribeiro Filho, foram trocados por duas áreas que, somadas, chegavam a 33 mil hectares.
O primeiro proprietário passou as glebas à Cedrobom. Ribeiro Filho ia revendê-las quando o contrato de propriedade foi falsificado num cartório de Cuiabá (MT).
É por causa de informações que associam os executores do crime a pessoas ligadas a Campos que o DHPP pediu a quebra do sigilo bancário do ex-governador. Suspeita-se de que os assassinos receberam R$ 100 mil. O STJ decidirá se quebra o sigilo.
Já estão presos, sob a acusação de participar das execuções, três policiais do Mato Grosso do Sul. Um quarto policial está foragido. Eles fariam parte de um grupo de extermínio que age a mando de políticos e empresários do centro-oeste. Todos alegam inocência. Procurado ontem pelo Estado, Campos não se manifestou. Colaborou: Nelson Francisco, especial para o Estado

As gravações
Diálogo 1
Comprador das terras - Quem é o verdadeiro dono? Que eu tô querendo fazer uma transação cara...
Delci Baleeiro Souza - (inaudível)
Comprador - Júlio Campos, ah, tá.
Souza - Eu e a Nauriá tiramos cópias dos documentos e aí...
Comprador - Então o verdadeiro dono é o seu Campos.
Souza - Positivo.
Diálogo 2
Comprador das terras - Tô querendo fazer um negócio com a Cedrobom e é o Júlio Campos que é o verdadeiro dono, né? uriá Alves de Oliveira - É por que para qualquer transação que o senhor quiser tem que falar direito com ele.
Comprador - Ah, a senhora só emprestou o nome?
Nauriá - Isso, por quê?
Souza e Nauriá são acusados de serem os laranjas de Júlio Campos na fraude que os tornou donos de 99 mil hectares de terras.
Fonte: transcrição feita pela Delegacia Seccional de Santos

OESP, 17/10/2004, Cidades, p. C8

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