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Instituto lança livro sobre índios brasileiros

O Estado de São Paulo - São Paulo - SP
Autor: Eduardo Nunomura
02 de Abr de 2001

Uma boa notícia é que que houve crescimento populacional nos últimos 5 anos

O retrato do índio brasileiro é um quebra-cabeça ainda em formação. Essa é a visão do antropólogo Beto Ricardo, editor do livro Povos Indígenas no Brasil 1996/2000, que será lançado hoje em São Paulo e amanhã em Brasília. De um lado, comemora-se o crescimento populacional acima do esperado. De outro, descobriu-se que há pelo menos 12 povos à beira da extinção e muito pouco tem sido feito para reverter essa situação. Na capa do livro, um símbolo é emblemático. Um contador gira ao contrário, simbolizando essa ameaça. Hoje, são 216 etnias; amanhã, poderão ser 215, 214... "São povos que têm objetivos próprios e precisam de um Estado que não fique só falando em nome do índio", critica o antropólogo. Segundo ele, as boas notícias apresentadas na obra acabam por ser eliminadas diante da falta de uma política consistente que encerre os conflitos com os homens brancos. Entre os maiores problemas, diz, estão a questão fundiária, relativa à invasão de reservas indígenas por garimpeiros, traficantes e fazendeiros; um Estatuto do Índio desatualizado e uma agência, a Fundação Nacional do Índio (Funai), pouco ágil e instável - em 33 anos de vida, teve 27 presidentes. Para produzir a obra, que chega à sua oitava edição e é uma referência sobre o tema no Brasil, foi preciso reunir dados de mais de 200 colaboradores do País todo, muitos a milhares de quilômetros de distância. O resultado é uma imagem bastante próxima dos índios brasileiros, apresentada em 832 páginas, 27 mapas e 270 fotos. Segundo o "censo" do Instituto Socioambiental, hoje a população indígena chega a 350 mil pessoas - um crescimento de 3,5% anuais entre 1996 e 2000. Nada mau se comparado com o crescimento de 1,6% da população brasileira no período. Há exemplos ainda mais significativos, como a etnia uaimiri-atroari, que cresceu 7% durante esses anos. Se nas estimativas anteriores eles estavam em declínio, hoje já são quase 800 índios vivendo no Amazonas e em Roraima. A obra apresenta 81 artigos de especialistas no tema e mais de 1.500 notícias de jornais brasileiros. A parte que trata das etnias foi dividida por regiões geográficas. Rondônia foi um dos Estados que mereceram um capítulo exclusivo. Entre as 12 etnias ameaçadas, 7 residem nessas terras. Nos últimos 25 anos, foi o Estado amazônico que teve a maior quantidade de floresta abruptamente invadida.

Terras - Outro destaque negativo criticado é a falta de demarcação das terras na área denominada Raposa-Serra do Sol, situada no nordeste de Roraima. A região, ocupada pelos macuxis, uapixanas, ingaricós, taurepangues e patamonas, é a mais populosa entre as terras indígenas que não foram demarcadas. Pela primeira vez, o Instituto Socioambiental incluiu depoimentos de representantes de índios, que falam de sua luta pela sobrevivência após a "descoberta" do homem branco. "No começo das coisas, aqui só havia habitantes da floresta, seres humanos. Os brancos clamam hoje: `Nós descobrimos a terra do Brasil!' Isso não passa de uma mentira", declara Davi Kopenawa, da aldeia uatoriqui, em Roraima. Hoje na Livraria Fnac, Av. Pedroso de Morais, 858, São Paulo; amanhã, no bar-restaurante Carpe Diem, SCLS 104 - Bloco D, loja 1, Brasília. Preço: R$ 52,00

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