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11 de Set de 2008
O mico-leão de cara preta (Leontopithecus caissara) é um dos macacos que figuram na lista dos 25 primatas do mundo mais ameaçados de extinção. Existem apenas cerca de 400 micos distribuídos na área do Parque Nacional de Superagüi, ao norte do litoral paranaense. A área do parque é composta por quatro ilhas: Superagüi, Ilha das Peças, Pinheiro e Pinheirinho e mais uma parte continental, no vale do Rio dos Patos, totalizando 67.854 hectares no município de Guaraqueçaba. É praticamente o único refúgio do mico-leão de cara preta e abriga mais espécies consideradas de risco, como a onça-pintada, a suçuarana, a jaguatirica, os pequenos felinos, a paca, entre outras.
Um dos projetos de pesquisa e investigação sobre o comportamento dessa espécie é desenvolvido por um grupo de pesquisadores do Laboratório de Biodiversidade, Conservação e Ecologia de Animais Silvestres da Universidade Federal do Paraná, apoiados pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. O objetivo é trabalhar com a espécie a fim de levantar e divulgar conhecimentos científicos obtidos em seu habitat natural.
Esse projeto já tem alguns resultados conhecidos. Sabe-se que essa família de micos utiliza uma área florestada de 34 hectares. Durante o dia o deslocamento e a procura por alimentos são constantes. Mas as atividades vão além, há muita interação social entre eles, com catação, brincadeiras e compartilhamento de alimentos entre o grupo.
O estudo da dieta dos animais demonstrou até o momento que alguns dos principais itens alimentares são os frutos de jerivá (coquinho), o araçá e pequenos animais como gafanhotos, aranhas, baratas e anfíbios, capturados principalmente em cascas de árvores, no chão e em bromélias. Há também uma vasta gama de outros itens que são consumidos ocasionalmente como flores secas de bromélias, fungos e goma de árvores.
Um grupo de micos com cinco indivíduos (três adultos e dois juvenis gêmeos) está sendo acompanhado mensalmente pelos pesquisadores da equipe. O grupo é localizado através de um equipamento de rádio-telemetria e monitorado desde o início de suas atividades ao amanhecer até o entardecer quando se recolhem em ocos de árvores.
No mês de junho um momento raro da vida dos micos-de-cara-preta foi observado pelos pesquisadores: a cópula do par reprodutor. Apesar de serem uma peça chave no entendimento da estrutura social em grupos de primatas, cópulas são raramente observadas nas espécies de micos-leões por ocorrerem apenas em poucos dias durante o ano e principalmente por durarem apenas cerca de 20 segundos.
Estudando as relações dentro do grupo notou-se que o estágio de desenvolvimento dos filhotes e o momento reprodutivo dos adultos provocam alterações expressivas na maneira pela qual os animais se relacionam. Um exemplo que ilustra bem essa situação é o comportamento de guarda do macho reprodutor com relação à fêmea: no período em que as cópulas ocorreram houve uma diminuição na sociabilização entre a fêmea e o macho ajudante, e a relação entre o coadjuvante e o reprodutor teve um aumento no número de interações agressivas.
Embora o macho ajudante seja repelido das atividades reprodutivas pelo outro macho, seu papel no desenvolvimento da prole é bastante importante, até mesmo crucial de maneira a permitir que a custosa produção de gêmeos a cada gestação seja possível. Essas questões de custos e de vantagens em ajudar o desenvolvimento da prole alheia são de especial interesse para entender tanto a sociedade desses animais como sua dinâmica populacional.
A expectativa é de que as pesquisas com os micos-leões-de-cara-preta no Parque Nacional de Superagüi continuem e gerem mais conhecimentos sobre a evolução de comportamento dessa espécie e de sua ecologia. Dessa forma será possível a criação de uma base de dados biológicos empíricos compatíveis com o desenvolvimento de um plano de conservação acurado visando a manutenção das populações desta fascinante peça da biodiversidade brasileira chamada mico-leão-de-cara-preta.
Identificado apenas em 1990, o mico-leão caiçara - como também é chamado - apesar do exuberante e bem preservado habitat em que vive, continua muito vulnerável à extinção. Ele é objeto de muitas preocupações dos conservacionistas.
Em geral, os grupos de micos são monogâmicos e constituídos por um casal e seus filhotes. Mesmo já com idade adulta alguns filhotes permanecem no grupo e ajudam nos cuidados de seus irmãos mais novos, carregando-os nas costas e provendo-os com alimentos.
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