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Inseticida contaminou Paraíba na piracema

O Globo, Rio, p. 15
27 de Nov de 2008

Inseticida contaminou Paraíba na piracema

Segundo biólogo do Projeto Piabanha, dano foi maior porque peixes mortos desovariam no rio

Aloysio Balbi e Tulio Brandão

A onda tóxica do inseticida endosulfan contaminou o Rio Paraíba do Sul justamente durante o fenômeno da piracema, quando os peixes sobem o rio para desova. Segundo o biólogo Guilherme Souza, diretor técnico do Projeto Piabanha ? maior iniciativa de conservação de estoques pesqueiros da bacia ? a infeliz coincidência multiplicou o número de peixes mortos do Paraíba. Ele estima que as 80 espécies que hoje habitam o rio tenham sido drasticamente afetadas. A contaminação durante a piracema, diz o biólogo, compromete a reprodução de peixes na região por três anos.

- Os cardumes receberam toda a carga tóxica quando subiam o rio. Abrimos 70 exemplares mortos das espécies com valor comercial e todas estavam cheias de ovos. Desovariam entre o Natal e o Ano Novo. Como os grandes peixes demoram a reproduzir, teremos um baixíssimo índice de reprodução nos próximos três anos. Jamais vimos situação tão dramática ? afirma Guilherme, lembrando que o veneno só não dizimou toda a biota porque alguns peixes fugiram para os rios Muriaé e Pomba, afluentes do Paraíba.

O vazamento comprometeu ainda os dez anos de trabalho do Projeto Piabanha. Nesse período, foram introduzidos no Paraíba mais de um milhão de peixes. Análises revelaram que as oito espécies estudadas pelos técnicos foram afetadas. Em pior situação estão cinco de valor comercial: piau-vermelho, piau-branco, lambari, curimatã e bagre. A estimativa dos técnicos é de que, só na região entre Itaocara e Campos, 1,2 mil pescadores sejam afetados. A atividade, no entanto, deve ser interrompida de Resende até a foz.

Ontem, em Campos, foram recolhidas cinco toneladas de peixes. A Associação dos Pescadores de Campos disse que vai processar a empresa Servatis, em Resende, que foi responsável pelo vazamento do inseticida. A entidade quer uma audiência com o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc.

Três projetos de lei foram apresentados na Assembléia Legislativa do Rio. O deputado André do PV propôs proibir indústrias que usem substâncias organocloradas no Paraíba. A deputada Inês Pandeló (PT) sugeriu a criação de um plano de contingência para acidentes no rio e a proibição do endosulfan no estado.

O Globo, 27/11/2008, Rio, p. 15

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