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Inpe libera dados só após 1 mês de revisão

OESP, Vida, p. A21
11 de Jul de 2008

Inpe libera dados só após 1 mês de revisão
Objetivo é evitar que qualidade dos resultados seja questionada

Herton Escobar

A sociedade civil terá de esperar um mês, em vez de 15 dias, para receber os relatórios mensais sobre desmatamento na Amazônia a partir de agora. Esse é o tempo que o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) precisará para validar os dados do Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter) com imagens de outros satélites e inspeções de campo, conforme determinação do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT).

O boletim de maio, que normalmente teria sido divulgado em meados de junho, ainda está sendo finalizado esta semana e deverá ser divulgado na terça-feira, segundo o Inpe. Os dados de junho, por sua vez, estarão disponíveis apenas no fim do mês.

O atraso só foi justificado oficialmente anteontem pelo MCT, por meio de nota: "Para tornar a informação mensal sobre o desmatamento mais precisa, o Ministério da Ciência e Tecnologia determinou ao Inpe que fossem feitos estudos de validação e qualificação dos dados, utilizando imagens de outros satélites e dados de campo, aprimorando os métodos científicos e garantido a confiabilidade e a comparabilidade dos dados."

Na semana passada, o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, disse que a divulgação estava retida por ordem da Casa Civil. Procurada ontem pelo Estado, a Casa Civil informou que não tem os dados e que a divulgação será feita na terça-feira, conforme a nota do MCT.

Organizações não-governamentais que atuam na Amazônia temem um retrocesso na política de transparência estabelecida pela ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva, que pediu demissão dois meses atrás. Segundo fontes próximas ao MMA, o governo sempre pressionou para que os dados fossem repassados à Presidência antes de serem divulgados. Mas Marina era irredutível.

"Sempre divulgamos os dados assim que eles ficaram prontos", disse Marina ontem ao Estado. "É fundamental que se mantenha a transparência do sistema, livre de influências políticas."

Segundo o Inpe, apesar do atraso na divulgação pública, o Ibama nunca deixou de receber os mapas de alerta do Deter, que são usados para orientar a fiscalização de campo, com periodicidade de 15 dias. ONGs ambientalistas e de pesquisa que também trabalham com os dados, porém, continuam sem receber as informações de maio.

"Para mim é algo mais do que obscuro", diz o diretor da ONG Amigos da Terra, Roberto Smeraldi. "O Deter deveria criar a possibilidade de controle social, e não servir apenas como ferramenta de fiscalização do Ibama. Esse era o grande diferencial."

A partir de agora, antes da divulgação pública, as imagens do Deter, produzidas pelo sensor Modis do satélite Terra (de baixa resolução), serão validadas com imagens do satélite Landsat (de maior resolução). A idéia seria evitar questionamentos políticos sobre a qualidade dos dados, como ocorreu nas últimas divulgações.

OESP, 11/07/2008, Vida, p. A21

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