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Inovação com tradição local é receita para gerar riqueza na Amazônia 4.0

Diário do Porto - https://diariodoporto.com.br/
16 de Nov de 2022

Inovação com tradição local é receita para gerar riqueza na Amazônia 4.0
Na COP-27, especialistas debateram quais escolhas devem ser feitas nos próximos cinco anos para mudar a realidade social e econômica da Amazônia

16/11/2022

Meio século após a conferência de Estocolmo e 30 anos após a Rio-92, é hora de restaurar a estrutura de governança ambiental desmontada no Brasil e reinserir a Amazônia no debate sobre desenvolvimento sustentável. Para especialistas que estiveram na terça-feira (15) no Brazil Climate Action Hub, na COP27, a bioeconomia deve respeitar a diversidade e valorizar as tradições das populações da floresta. "Falar em bioeconomia pressupõe discutir direito a território", disse Angela Mendes, filha do seringueiro e ambientalista Chico Mendes, presente no painel Da ciência à ação: Bioeconomia como alternativa para o desenvolvimento sustentável da Amazônia.

"A bioeconomia precisa ser transformadora", acrescentou Patrícia Pinho, diretora-adjunta de pesquisa no IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia). Segundo ela, até 2040, só o Pará pode gerar US$ 5,4 bilhões em bioeconomia. "Devemos transcender à visão sobre a Amazônia como provedora global da estabilidade climática e de commodities. Há um potencial enorme para ser desenvolvido. É necessário endereçar pobreza, desigualdade étnica, racial, de gênero, mantendo, assim, a floresta de pé e assegurando os direitos da população", explicou. O Brazil Hub é coordenado pelo Instituto Clima e Sociedade (iCS), Instituto ClimaInfo e Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), com apoio de diversas organizações.

O ponto de não retorno da savanização da floresta

O ponto de não retorno da Amazônia será alcançado se o bioma perder 25% da vegetação florestal, com consequências irreversíveis de perda de interações entre fauna e flora, de provisão de alimentos e plantas medicinais e de serviços ecossistêmicos como equilíbrio dos ciclos da água e do carbono. Até 2021, cerca de 17% da Amazônia já haviam sido desmatados, segundo o MapBiomas. Para Carolina Genin, diretora de Clima do WRI e moderadora do painel, a nova economia da Amazônia foca em quais escolhas devem ser feitas nos próximos cinco anos para mudar a realidade social e econômica, parando o desmatamento e impedindo o ponto de não retorno.

Amazônia 4.0: tecnologia com floresta em pé

Pesquisador dos riscos de savanização da floresta, Carlos Nobre, ex-diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), apresentou seu projeto para combinar conhecimento dos povos indígenas e comunidades locais e fortalecer a bioeconomia da floresta em pé e dos rios fluindo. O "Amazônia 4.0" foi criado em 2019 e prevê Laboratórios Criativos com construção de pequenas biofábricas para capacitar populações rurais e urbanas. Cacau e cupuaçu iniciaram o projeto, com um laboratório para capacitar comunidades no Pará e mais de 20 indígenas. O projeto prevê também uma escola de negócios em parceria com a USP e o Instituto de Tecnologia da Amazônia, o AMIT, com centros de pesquisa no Peru, Equador, Colômbia e Bolívia.

"É um sonho que vamos realizar, e será um instituto com o padrão das melhores universidades e institutos de ciência e tecnologia, com desafio para criar condições para que as comunidades indígenas e locais se beneficiem", disse Nobre. Hoje, segundo ele, a Amazônia brasileira tem mais de 1 milhão de quilômetros quadrados de áreas desmatadas e mais de 1 milhão degradados.

A Rede Origens Brasil, criada pelo Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) e o Instituto Socioambiental (Isa), caminha na mesma direção, unindo as pontas para ampliar negócios da floresta em pé, a biodiversidade e os povos que atuam como guardiões da floresta, apontou Renata Potenza, especialista em Clima e Emissões no Imaflora.

Uma nova governança global e climática com a liderança do Brasil

A ausência do governo brasileiro na agenda de clima e desenvolvimento econômico abriu caminho para um protagonismo maior dos Estados. Agora é preciso repactuar o papel da União e dos governos subnacionais, segundo o painel Do planejamento à ação: sociedade e política conectados no combate às mudanças climáticas no Brasil.

Para Izabella Teixeira, ex-ministra do Meio Ambiente do Brasil, no novo rearranjo institucional, o Congresso terá papel essencial, buscando alternativas para que o financiamento externo não seja limitado pelo teto fiscal orçamentário. "É preciso preparar uma nova governança, com criatividade e audácia típicas de nosso país", disse a ex-ministra. Especialistas da sociedade civil, do parlamento e dos governos subnacionais se reuniram no painel para debater os caminhos da transição para a economia verde e de carbono-neutro, além do reposicionamento do Brasil na agenda climática.

Estiveram presentes representantes de governos, setor privado, academia e sociedade civil. Entre os participantes, Larissa Santos, Gerente de Desenvolvimento Institucional da RAPS, Eugênio Pantoja, Diretor de Políticas Públicas e Desenvolvimento Territorial do IPAM, Renata Piazzon, Diretora de Mudanças Climáticas do Instituto Arapyaú, Eduardo Bastos, membro do Grupo Executivo da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, Senador Alessandro Vieira, e Mauro de Almeida, Secretário de Estado do Pará.

Os eventos:

Caminhos para o fim do desmatamento: engajamento entre elos das cadeias agroalimentares

O painel "Caminhos para o fim do desmatamento: engajamento entre elos das cadeias agroalimentares" discutiu acesso a assistência técnica e financiamento para que os pequenos produtores rurais possam investir em técnicas sustentáveis, como manejo de pasto, evitando a degradação de novas áreas. "Se continuarmos neste clima conflagrado, só de produção, sem o direcionamento de ações efetivas, passaremos muitas conferências contando a mesma história com os mesmos índices que vemos atualmente. Precisamos de uma nova perspectiva para que os problemas sejam adequadamente endereçados", disse Paulo Pianez, diretor da Marfrig Global Foods.

Para Daniel Nepstad, do Earth Innovation, a erradicação do desmatamento depende de políticas públicas e investimentos do setor privado, que garantirão a produtividade dos produtos oriundos da cadeia limpa de emissões. "A agenda florestal da agricultura pode reduzir as emissões para além das metas climáticas, a NDC. Todos precisam andar juntos - a competitividade do produtor, do estado e do país. Precisamos de dinheiro em escala para fazermos esta transformação."

O setor financeiro também deve se envolver no combate ao desmatamento, atenta Puninda Thind, da Climate Champions. O investimento em soluções baseadas na natureza pode evitar perdas significativas no PIB mundial até o fim da década, conforme avançam as mudanças climáticas. "Os fóruns econômicos têm relatórios que mostram que a perda de biodiversidade e a degradação são grandes riscos para os próximos dez anos. Espero que as instituições financeiras levem isso em consideração em suas decisões", alerta. "A maior parte do PIB do planeta baseia-se no valor da natureza. Por isso é fundamental haver investimentos."

O painel foi moderado por Viviane Romeiro, assessora técnica responsável pelo CT Clima do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) e organizado pela Iniciativa Empresarial de Clima (IEC) e pela Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura.

Preservar a Amazônia é impossível sem preservar os povos tradicionais, afirma Fafá de Belém

Na mesa "A importância da Amazônia e papel da arte e da Cultura na Valorização e Conservação da Região e seus Povos", a cantora paraense Fafá de Belém, embaixadora do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), afirmou que é fundamental que as políticas públicas vejam os povos da floresta como parte fundamental da preservação e se afastem do "olhar exótico, respeitando a cultura local e incluindo no debate os que vivem na floresta. "Sempre olham pra nós, mas esse olhar tem que ser no mesmo nível. Não vão ganhar likes com a gente só escrevendo Amazônia e povos originários em post nas redes sociais. Não importa a qualidade das intenções, sem ouvir os povos se perdem oportunidades. Não queremos caridade, queremos respeito", afirmou. Fafá fez rápida apresentação e cantou "Vermelho".

Integridade e Conformidade nas Cadeias Produtivas da Agropecuária

O painel apresentou e discutiu modelos produtivos inovadores, conciliando áreas produtivas com áreas de conservação, estrutura programática necessária para estabelecer condições favoráveis para alcançar o desenvolvimento de baixas emissões na Amazônia, boas práticas no uso da terra e soluções tecnológicas para a gestão, rastreabilidade e descarbonização das cadeias produtivas. O painel foi organizado por Imaflora; UFMG; IMAC-MT; SEMAD-MG e SEMAS-PA.

De Glasgow a Sharm El-Sheikh: avanços na campanha Race to Zero no Brasil e novos investimentos

Nas palavras do presidente da COP 26, Sr. Alok Sharma, alcançar a neutralidade de carbono significa prosperidade. Para o Reino Unido, isso se traduziu, nos últimos dois anos, em trabalhar lado a lado com instituições parceiras brasileiras para mobilizar governos subnacionais e o setor privado brasileiro e disseminar a Campanha Race to Zero pelo país.

Neste sentido, a COP27 é o momento mais oportuno para o reconhecimento de todo o trabalho feito até agora. Com isso em mente, surgiu o evento "De Glasgow a Sharm El-Sheikh: avanços na campanha Race to Zero no Brasil e novos investimentos", realizado nesta terça-feira.

Organizado pela Embaixada do Reino Unido no Brasil, em conjunto com o Instituto Clima e Sociedade e o CDP Latin America, e apoiado pela ACA Brasil, o objetivo do evento foi entregar um momento político de alto nível durante a COP27, buscando reconhecer os avanços de descarbonização dos participantes da campanha Race to Zero no Brasil, o que permitirá trocas significativas entre signatários de diferentes setores e gerará impulso em direção ao carbono neutro e ao fortalecimento das práticas de transparência e monitoramento dos compromissos climáticos.

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