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Iniciativa busca estimular cacau na Amazônia

Valor Econômico, Agronegócios, p. B11
08 de Jan de 2015

Iniciativa busca estimular cacau na Amazônia
Escassez de chocolate leva ex-banqueiro a tentar reativar o cultivo da amêndoa no vizinho Peru

Matt Craze
Bloomberg

Com o aumento dos preços do chocolate, um ex-banqueiro do Credit Suisse Group AG quer ajudar a reativar o cultivo de cacau na bacia amazônica, onde acredita-se que os grãos se originaram há cerca de 15.000 anos.
Sua iniciativa, localizada no Peru, é parte de um esforço latino-americano para conquistar um controle maior do setor hoje dominado por produtores da África Ocidental, responsáveis por 70% do mercado. O esforço surge num momento em que a seca, as doenças e os controles governamentais de preços reduziram a capacidade dos produtores africanos de atender à demanda, o que elevou os preços em 7,4% em 2014.
Surge então a América Latina, onde cientistas acreditam que o cacau se originou. Em dado momento, o doce era considerado pelos astecas como a bebida dos deuses e acabou sendo levado à Europa pelos colonizadores espanhóis. Agora, o ex-banqueiro Dennis Melka está participando da iniciativa do Brasil, do Equador e da Colômbia para que o produto volte às suas raízes.
"O mercado está crescendo mais rapidamente do que a capacidade da África para atendê-lo", disse Melka, CEO e fundador da United Cacao Ltd., com sede nas Ilhas Cayman. "É uma excelente oportunidade para fornecer e mudar a indústria confeiteira".
Melka, que saiu do Credit Suisse em 2005, era diretor da cobertura do banco para mercados emergentes, com foco no Sudeste Asiático. Ele fundou a Asian Plantations Ltd., que produz óleo de palma na Malásia, e depois passou a cultivar palma e outras espécies tropicais na América do Sul. Em novembro, ele vendeu a Asian Plantations em um acordo de 188 milhões de libras, segundo dados compilados pela Bloomberg. No mês seguinte, a United Cacao arrecadou US$ 10 milhões em sua abertura de capital, em Londres, e as ações subiram 35% desde então.
O cacau é uma planta sensível e só pode ser cultivada a cerca de 10 graus da linha do Equador. Por ter terras em condições ideais e disponíveis imediatamente na selva sul-americana, Melka afirma que a região amazônica está despontando como um fornecedor primordial para os produtores de chocolate.
Os preços do cacau vêm aumentando desde 2011 e agora estão em cerca de US$ 2.900 por tonelada. "Estamos correndo para plantar porque este preço é incrível", disse Melka. "O Vale do Silício do setor cacaueiro não fica na Ásia nem na África, fica no cinturão amazônico equatoriano e peruano".
Melka pretende conquistar uma fatia do mercado da África Ocidental, onde o cacau é cultivado principalmente por pequenos produtores e vendido a produtores de chocolate pela americana Cargill Inc., pela Barry Callebaut AG, da Suíça, e pela Olam International Ltd., que são processadores de grande porte.
À medida que a demanda global aumenta, em parte por conta da mudança das preferências do consumidor na Ásia, a Organização Internacional do Cacau projeta uma escassez de 100.000 toneladas no atual ano de cultivo. A Mars Inc. prevê que em 2020 a escassez será de 1 milhão de toneladas.
A M. Libânio Agrícola SA, produtora e processadora brasileira de cacau desde 1920, pretende triplicar a produção em nove fazendas com 627 mil hectares na Bahia, disse Eimar Sampaio Rosa, diretor acionista da empresa.
A Bahia já foi a segunda maior região exportadora do mundo, e os produtores ainda estão se recuperando de uma epidemia de vassoura-de-bruxa, que devastou as safras na década de 1990, e de um longo período de preços baixos, disse Rosa, cuja empresa abastece a Nestlé SA e a Bonnat Chocolatier, da França.
"Os níveis de dívida ainda são muito altos entre os produtores depois de todos os problemas que eles enfrentaram", afirmou Rosa. "O Brasil poderia aumentar substancialmente os níveis de produção e talvez se tornar exportador em 15 anos se os produtores tivessem acesso ao crédito".
Empresas como a Cargill e a Barry Callebaut vão continuar se concentrando na África Ocidental e estão ajudando produtores da Costa do Marfim e de Gana a aumentarem os rendimentos para estimulá-los a continuar plantando cacau, disse Victoria Crandall, analista de commodities do Ecobank, em Abidjan, Costa do Marfim. "A demanda por chocolate só vai aumentar, principalmente na Ásia", disse Crandall. "No médio a longo prazo, esse é um mercado muito altista".

Valor Econômico, 08/01/2015, Agronegócios, p. B11

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