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Ineficácia na contenção do desmatamento na Amazônia

O Globo, Opinião, p. 2
09 de Nov de 2019

Ineficácia na contenção do desmatamento na Amazônia
Com militares, governo conseguiu reduzir queimadas, mas não impediu aumento de devastação

Editorial

Diante do cenário inflamado de meses atrás, não se pode negar que seja boa notícia a recente redução no número de queimadas na Amazônia. Dados do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia mostram que elas ficaram abaixo da média nos últimos meses. Em setembro, foram registrados 19,9 mil focos de incêndio na região - a média histórica é de 33,4 mil -, contra 24,8 mil no mesmo período de 2018, uma queda de quase 20%. Estima-se que em outubro a redução tenha sido ainda mais significativa, algo em torno de 60%. Números relevantes, sem dúvida. Mas registre-se que, no acumulado do ano, até fins de outubro, o número de queimadas na Amazônia já superava o de todo o ano passado (71 mil contra 68 mil).

Segundo especialistas, essa redução pode ter causas diversas. Uma delas, a operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) deflagrada em 24 de agosto com o objetivo de combater as queimadas na Amazônia. Encerrada no dia 25 de outubro, a ação, que reuniu mais de 8 mil pessoas, entre militares e civis, foi a forma que o governo Jair Bolsonaro encontrou para debelar a grave crise, dentro e fora do país, provocada pelo aumento do número de focos de incêndio na região. De acordo com o Ministério da Defesa, as multas ambientais aplicadas no período somam R$ 104 milhões. Já o Ibama apresentou número mais elástico: R$ 238 milhões, o que significaria aumento de 33% em relação ao mesmo período de 2018. Outros motivos que explicariam essa trégua nas queimadas são o início da temporada de chuvas na região e a moratória imposta pelo governo ao uso do fogo.

Chama a atenção que no Pantanal, onde não houve GLO, embora haja atuação de equipes do Prevfogo, do Ibama, o número de queimadas tenha disparado nos últimos meses. O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) registrou 8.479 focos de incêndio de janeiro a outubro deste ano, um salto de 462% em relação ao mesmo período de 2018, quando foram contabilizados 1.507, números considerados atípicos para esta época do ano.

O fato é que, se o governo conseguiu esfriar a crise das queimadas na Amazônia, ainda que o sucesso não possa ser atribuído exclusivamente à missão dos militares, o mesmo não se pode dizer das ações contra o desmatamento. Dados do sistema Deter, do Inpe, revelam que em setembro, quando ainda vigorava a GLO, houve um aumento de 96% no desmatamento - foram derrubados 1,4 mil quilômetros de floresta. Números do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) seguem na mesma direção. Apontam crescimento de 80% na devastação em setembro. Por mais que o governo demonize as estatísticas, elas estão aí. E é preciso agir. Talvez o combate às queimadas indique um caminho.

O Globo, 09/11/2019, Opinião, p. 2

https://oglobo.globo.com/opiniao/ineficacia-na-contencao-do-desmatament…

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