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Indústria ignora regras sanitárias

OESP, Vida, p. A24
30 de Mai de 2010

Indústria ignora regras sanitárias
Falhas vão do uso de matéria-prima vencida à adulteração da fórmula registrada no País

Lígia Formenti

Além de importar produtos banidos em outros países, o Brasil abriga fábricas de agrotóxicos que apresentam um histórico de falhas na aplicação de regras sanitárias. Seis das sete indústrias vistoriadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), entre julho de 2009 e maio deste ano, tiveram a linha de produção interditada e o material apreendido por irregularidades. Os problemas vão do uso de matéria-prima vencida a indícios de adulteração da fórmula registrada no País.
"Encontramos até adição de essências aromáticas", conta o diretor da Anvisa, José Agenor Álvares. A tática é usada para camuflar o cheiro de veneno e, assim, tornar o produto mais tolerável para o agricultor e para a população que vive no entorno das fábricas. "Além de ser inusitada, a prática traz um risco a mais. Cheiro forte é uma forma de alerta sobre o tipo de produto que se está lidando", completa.
As indústrias já analisadas têm cerca de 80% do mercado nacional. Foram apreendidas nas fiscalizações 9,06 milhões de toneladas de agrotóxicos suspeitos. Das unidades inspecionadas, só uma não teve a produção interditada. Mesmo assim, não se livrou da autuação por omissão de informações.
"Os indícios de irregularidades encontrados foram muito preocupantes. Havia um descompromisso com normas, algo que esperamos que seja corrigido", avalia Álvares. A apreensão se justifica. "O produto envolve uma série de riscos para a saúde e o meio ambiente. Justamente por isso ele tem de ser acompanhado de perto", diz o gerente geral de Toxicologia da Anvisa, Luiz Cláudio Meirelles.
Ele conta que duas empresas pediram cancelamento de registro de um produto. "As adequações eram tão grandes para chegar à formula original que não valeria a pena (o investimento) para a empresa", diz Meirelles.
Fórmula. A Anvisa começou a inspecionar indústrias de agrotóxicos em 2009, após formação de equipe especializada. Nas ações, os fiscais têm apoio da PF. Até então, a atividade era acompanhada por fiscalizações do Ministério da Agricultura.
Em nota, a Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef) afirma que não há regras para mudança do registro de componentes de defensivos agrícolas no País, o que impede a alteração formal. Justificativa que não convence autoridades. "É preciso que as empresas sigam à risca a fórmula indicada no registro. Só assim podemos acompanhar a segurança do produto", diz o coordenador-geral de Agrotóxicos e Afins do Ministério da Agricultura, Luis Eduardo Rangel.

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100530/not_imp558866,0.php

Agrotóxicos são a 4ª causa de intoxicação
Esse tipo de produto só fica atrás de remédios, acidentes com animais peçonhentos e saneantes

Agrotóxicos ocupam o quarto lugar no ranking de intoxicações do País, atrás de medicamentos, acidentes com animais peçonhentos e produtos de limpeza (saneantes). Em 2007, foram registradas 6.260 casos provocados por agrotóxicos.
"As estatísticas identificam acidentes, intoxicações extremas. Não sabemos quantas pessoas adoecem pela exposição por meio do consumo de alimentos", diz a coordenadora do Sistema Nacional de Informação Tóxico Farmacológicas da Fiocruz (Sinitox), Rosany Bochner.
Estudos em laboratório mostram o risco de algumas substâncias provocarem problemas hepáticos, doenças de pele, mais risco de câncer, problemas hormonais, neurológicos e reprodutivos.
"Temos de ser realistas, não podemos considerar agrotóxicos como veneno, eles têm importância para produção", afirma o chefe do Laboratório Toxicológico da Escola Nacional de Saúde Pública, Sérgio Rabelo. Para ele, o problema não está no uso de todos os produtos, mas no emprego incorreto.
Uma análise feita desde 2001 pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, batizada de Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (Para), acompanha os níveis de resíduos de agrotóxicos nos alimentos consumidos pela população. Além do abuso de defensivos, a pesquisa revela o emprego de produtos proibidos para algumas culturas.
Dados da última avaliação, feita em 2008, revelam, por exemplo, que 64,36% das amostras de pimentão analisadas apresentavam uso de defensivos proibidos para a cultura - entre eles, endossultam e acefato, que estão sendo agora reavaliados.

OESP, 30/05/2010, Vida, p. A24

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100530/not_imp558867,0.php

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