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Indústria de celulose aproveita boom do setor e investe em práticas sustentáveis

O Globo, Economia, p. 56
31 de Out de 2010

Indústria de celulose aproveita boom do setor e investe em práticas sustentáveis
Segmento, marcado por desastres ambientais, aposta em tecnologias verdes

Catarina Alencastro

BRASÍLIA. Depois de amargar desastres ambientais e assumir a má fama de nociva à natureza nas décadas de 70 e 80, a indústria de papel e celulose decidiu virar verde, implementou métodos sustentáveis de produção e hoje abocanha um mercado ascendente, que chegou a R$ 50 bilhões em 2009. Há dois anos, o Brasil subiu da sexta para a quarta posição no ranking dos maiores produtores de celulose e já é o 11 principal produtor de papel do globo, segundo a Associação Brasileira de Celulose e Papel. Internamente, a demanda só cresce: o consumo de papel subiu 5%, com o brasileiro usando 46,2 quilos por ano.

- O Brasil vive um terceiro ciclo de expansão do setor de celulose e papel, que deve se estender pelos próximos dez anos - observa Francides Gomes, professor de Tecnologia de Celulose e Papel da Esalq-USP.

Florestas plantadas já chegam a 6,7 milhões de hectares
O bom momento do setor também pode ser medido pela expansão das florestas plantadas de eucalipto e pínus do Brasil, que de 2005 a 2008 avançou 5% ao ano. Em 2009, sentindo o baque da crise econômica, desacelerou para 2,5%.

De acordo com o Anuário Estatístico da Associação Brasileira de Produtores de Florestas Plantadas (Abraf), no ano passado a área chegou a 6,7 milhões de hectares.

A maior parte dessas produções é de eucalipto, matériaprima para a fibra curta - usada na fabricação de papéis de impressão e sanitários. A outra espécie é o pínus, que gera fibras longas para embalagens.

A Suzano, que aparece na lista das 25 maiores empresas do ramo no mundo, fatura R$ 23,6 bilhões por ano e produz 7,2 milhões de toneladas de papel e celulose. A receita do sucesso, segundo o diretor de Operações, Ernesto Pousada, é o tripé que passa pela vantagem comparativa do Brasil - água abundante, terras baratas e sol à vontade -, tecnologia genética para proporcionar espécies mais adaptadas ao clima nacional e um modelo sustentável. A gigante tem cinco fábricas e abrirá mais duas nos próximos quatro anos. De Minas Gerais e São Paulo, a indústria avança para Bahia e Maranhão.

- Poucos países desenvolveram tecnologia aliada à sustentabilidade. O Brasil vai se consolidar, sem dúvida, como o maior produtor de celulose do mundo, se não o segundo maior.

Temos um custo de produção que chega a ser 40% menor que em outros países - diz.

A indústria da celulose é, hoje, quase toda certificada e obediente à legislação florestal. Por depender do bom funcionamento dos ecossistemas em que estão instaladas, a maioria das empresas preserva as matas que protegem os rios e cumprem rigorosamente a reserva legal.

Muitas chegam a fazer mais do que o exigido. A legislação também exige que, durante o ciclo produtivo, a água captada dos rios próximos às fábricas seja tratada e devolvida com qualidade igual ou superior.

Segundo Fábio Marques, gerente da Plantar Carbon, uma das mais conceituadas do setor florestal, cerca de um terço da área de exploração é nativa:
- Aplicando a lei ambiental, a indústria tem de deixar pelo menos 20% de reserva legal e as áreas de preservação permanente (como a vegetação que margeia os rios). Só aí, deixamos pelo menos 30% intactos. Na Europa isso não existe.

Para ambientalista, setor é hoje modelo para agronegócio
Em uma das fazendas com florestas de eucalipto da Klabin - outra gigante do ramo - foi encontrado recentemente um ninho de filhotes de lobo-guará, espécie ameaçada de extinção.

O diretor de mobilização da SOS Mata Atlântica, Mário Mantovani, que nos anos 80 organizava piquetes contra as papeleiras, conta que o setor passou de vilão a mocinho e hoje é modelo para o agronegócio: - As indústrias encontraram o caminho da sustentabilidade e hoje o Brasil é o maior país com áreas certificadas.

Professor de Economia Florestal da UnB, Humberto Ângelo destaca que o Brasil tem um futuro pródigo, já que só a China tem 700 milhões de pessoas que ainda não têm acesso a papel.

O Globo, 31/10/2010, Economia, p. 56

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