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Índios_do_Maturuca_invadem_ fazenda do diretor do CSE

Brasil Norte-Boa Vista-RR
Autor: WIRISMAR RAMOS
27 de Ago de 2004

Índios da Maloca Maturuca, localizada dentro da polêmica reserva Raposa/Serra do Sol invadiram, na quarta-feira (25) à tarde, a fazenda São José, localizada no Baixo Rio Surumú (Município de Normandia), de propriedade do diretor do Centro Sócio Educativo (CSE) Coronel da Polícia Militar José Wilson da Silva. Segundo o Cel. Wilson, o grupo de cerca de 70 índios é formado, na sua maioria, por adolescentes de 13 a 15 anos, além de crianças, mulheres e alguns adultos. A fazenda tem 1.800 hectares e era utilizada para a criação de gado, há cerca de dois anos. "Fui obrigado a retirar todo o gado depois que a Funai considerou as fazendas da região como benfeitorias de má fé e, a partir daí, começaram a sumir reses do pasto (18 ao todo), misteriosamente", denuncia, ao ressaltar que parte do gado foi vendida e a outra, transferida para um sítio, localizado na Vila São Silvestre, em Alto Alegre. O Cel. José Wilson disse que foi informado pelo caseiro que o processo de invasão teve início na manhã de quarta-feira, quando os índios, segundo ele ligados ao Conselho Indígena de Roraima (CIR), invadiram as fazendas Cearazinho e Rondônia, de propriedade do pecuarista João Goberto, de onde retiraram toda a madeira que foi utilizada na construção dos nove barracos de lona. Wilson lamenta que a situação ainda indefinida da reserva Raposa/Serra do Sol seja tratada dessa forma pelos índios ligados ao CIR, que defendem a homologação de forma contínua da demarcação da área. "A situação na região, outrora próspera, hoje é de intranqüilidade. Primeiro eles (os índios) tentaram expulsar os arrozeiros, promovendo invasões de suas propriedades e agora tentam criar um clima de terror nos outros fazendeiros que ainda permanecem na área", lamenta. Wilson disse ainda ter gastado 18 anos de sua vida investindo na propriedade, onde pretendia ter uma vida sossegada no futuro, quando se aposentasse. "Agora me vejo sendo impedido de realizar o meu projeto de vida devido a essa situação indefinida da reserva, gerando esse clima de ameaça e provocando invasões", ressalta. A verdadeira intenção do CIR, segundo o Cel. Wilson, ao incentivar os índios do Maturuca a invadirem sua fazenda, era fazer com que ele reagisse de forma violenta, para que os índios saíssem da situação como as vítimas. "Mas o tiro saiu pela culatra, porque a minha reação será na forma da Lei, recorrendo aos meios legais, porque ainda confio na Justiça do meu País", destaca, ao adiantar que ainda nesta sexta-feira estará dando entrada na Justiça Federal com um pedido de reintegração de posse da fazenda São José.
CIR
A reportagem do Brasil Norte tentou, mais uma vez sem sucesso, na tarde desta quarta-feira, localizar alguém do CIR para que pudesse esclarecer a respeito da invasão à fazenda São José. O celular do assessor de Imprensa da entidade, André Vasconcelos, chamava mas ninguém atendia. Num segundo momento, o celular era desligado depois do segundo toque.
Polêmica
A fazenda São José fica na região do Baixo Rio Surumú, no Município de Normandia, dentro da reserva Raposa/Serra do Sol, de 1.780 hectares. A maloca Maturuca fica cerca de 180km da fazenda, cujo acesso é através da vila do Passarão. A reserva aguarda homologação da demarcação pelo presidente Luís Inácio Lula da Silva. A grande polêmica gira em torno da forma como a área deverá ser homologada: se de forma contínua ou em ilhas. Os povos indígenas que habitam a região estão divididos em dois grandes
grupos: há os que defendem a forma contínua, patrocinados pelo CIR, a Funai e as Organizações não Governamentais (Ong's); e há os que defendem a demarcação em ilhas, que têm o apoio dos políticos locais, produtores de arroz e fazendeiros, além das entidades indígenas Sodiurr, Alidicir e Arikon. As duas vertentes já revelaram na mídia roraimense que, independente da forma como a reserva for homologada, haverá conflitos na região, porque a decisão do presidente Lula certamente agradará uns e deixará insatisfeitos outros.

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