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Índios Xavantes católicos pedem maior abertura para religiões nativas

24 horas News- Cuiabá-MT
11 de Abr de 2005

O cacique Marcos Xukuru aprendeu desde garoto a ir à missa em sua aldeia, no interior do Pernambuco, e a ouvir com respeito o homem com quem seu pai e outros chefes haviam um dia se reunido para pedir ajuda em sua luta pela terras. O homem era João Paulo 2o., que em 1991, recebeu no Brasil uma comitiva de líderes indígenas da qual fazia parte o então cacique Xicão Xukuru.

O respeito pela Igreja --na qual foi batizado com o nome do evangelista Marcos, no lugar de seu nome indígena, Tatuí-- não impede porém que o novo cacique deseje mudanças com a eleição de um novo papa. Para ele, o catolicismo dos padres missionários no Brasil ainda precisa se abrir mais para aceitar a religiosidade nativa.

"Há ainda muitos padres que não conseguem fazer bem essa conciliação para respeitar as diferenças. Encontramos ainda muita rejeição em bispos e padres conservadores que só consideram a religiosidade católica", disse à Reuters o cacique Marcos pelo telefone público instalado em sua aldeia.

O povo xukuru, no entanto, já conseguiu avançar nesse diálogo. As missas são recheadas de cantos indígenas. E o próprio Marcos se casou recentemente na igreja com direito a uma pajelança tradicional feita pelo pajé.

Para outro líder indígena, Gersem Luciano Baniwa --da etnia baniwa do Alto Rio Negro, na Amazônia-- hoje quase nada da religião original dos povos é mantido nos cultos católicos.

"Às vezes usam cantos na língua, algumas palavras, mas a essência mesmo continua sendo a católica", disse Gersem, que trabalha na Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia (Coiab).

"A gente torce para que o novo papa não só apóie a defesa dos movimentos indígenas, mas que o ecumenismo não fique só entre as grandes religiões do Ocidente e que venha também para as religiões dos povos nativos", acrescenta ele em seu português correto, marcado apenas um pouco pelo sotaque indígena.

Toda a cultura, diz Gersem, está baseada nos elementos sagrados. "É isso o que ordena a vida dos povos indígenas. Quando isso não é reconhecido, fica difícil manter a vida."

Em 2000, João Paulo 2o. pediu, ajoelhado diante de um crucifixo, perdão em nome da Igreja pelos pecados cometidos contra os povos ao longo dos séculos. A imagem ficou na memória de muitos líderes indígenas brasileiros.

CATOLICISMO COM CARA PRÓPRIA

Segundo o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) --órgão da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)--, desde os primeiros contatos dos jesuítas com os índios do litoral brasileiro no século 16 até hoje, as mensagens da religião católica já chegaram "à grande maioria dos povos indígenas brasileiros".

O órgão admite, porém, que apenas uma minoria dos cerca de 750 mil índios absorveu o cristianismo em profundidade.

O presidente do Cimi, o italiano dom Franco Masserdotti, afirma que o objetivo é que "a mensagem evangélica seja inculturada, que ganhe um rosto da cultura indígena". Os xavantes do Mato Grosso, cita ele como exemplo, fazem batismos dentro de rios e associam o ritual a processos de iniciação.

Mas a questão cultural não é mais a bandeira exclusiva da Igreja no Brasil no que diz respeito aos índios, diz dom Marrerdotti. O Cimi tem procurado se envolver na luta pela defesa dos direitos dos índios à terra.

Marcos Xukuru diz que espera que o próximo papa apóie a luta pela reforma agrária e pela demarcação de terras indígenas no Brasil "contra madeireiros e empresários".

A causa tem gosto pessoal para ele. Um ano depois de ter se reunido com João Paulo 2o., seu pai, o cacique Xicão Xukuru, foi morto com seis tiros justamente por causa de conflitos por terra.

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