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Índios voltam a ocupar sede da Funai

A Crítica, p. A1;A8
13 de Jan de 2005

Índios voltam a ocupar sede da Funai

Por Omar Gusmão
Da equipe de A Crítica

Cerca de 300 índios ocupam, novamente, a sede da Fundação Nacional do Índio (Funai) em Manaus. Eles querem que o administrador do órgão, Benedito Rangel de Morais, apontado como empecilho à demarcação das terras indígenas no Amazonas, seja exonerado. 0 diálogo com a direção da Funai será retomado hoje

Índios decidem pernoitar na sede da Funai
Negociações não avançaram quanto a saída de Benedito Rangel, administrador regional. Índios estão inflexíveis
Os índios tomaram mais uma vez a sede da Fundação Nacional do índio (Funai) às 19h30 de ontem. Desta vez, não se trata de ocupação, mas de um acordo firmado com o presidente em exercício da Funai, Roberto Lustosa, que está em Manaus representando o presidente do órgão Federal, Mércio Pereira Gomes.
A permanência dos aproximadamente 300 índios na sede da instituição durante a noite de ontem foi permitida pela direção da Funai porque as negociações realizadas à tarde terminaram num impasse, que deve ser resolvido hoje. As negociações serão retomadas a partir das 9h.
Impasse
A causa principal do impasse é que os índios não abrem mão da exoneração do atual administrador regional do órgão, Benedito Rangel de Morais. 0 representante da presidência do órgão afirmou, contudo, não ter poderes para garantira saída de Rangel, mesmo tendo afirmado no início da reunião que estava aqui com plenos poderes de presidente.
No início da reunião com a comissão de 22 indígenas, o presidente em exercício da Funai demonstrou não estar muito disposto a negociar. Chegou a afirmar que há uma confusão por parte da opinião pública no que diz respeito à Funai. "As pessoas pensam que a Funai é a casa dos índios. A Funai não é a casa dos índios. É um órgão do Governo Federal que faz um diálogo com índios", disse. "Uma ONg não pode definiras políticas da Funai", disse.
Resistência
Ao final da reunião, contudo, diante da recusa das 22 lideranças em aceitara permanência de Benedito Rangel na direção regional da autarquia, Paulo Lustosa afirmou haver boa vontade de ambas as partes em resolver o impasse. Foi decidido que ele iria falar ontem à noite ou hoje pela manhã com o presidente Mércio Pereira Gomes para dar uma posição aos índios.
As lideranças indígenas propõem dois nomes para ocupar a administração regional da Funai: o economista, administrador público e executivo do Banco do Brasil, Lucas Fernandes Rodrigues, da etnia baré, e o antropólogo Jorge Terena. 0 representante da Funai afirmou, entretanto, que Mércio Pereira Gomes não pode nomear para o cargo alguém que não seja de sua confiança.

Destaque
Diante do impasse quanto à saída de Benedito Rangel, as outras reivindicações das lideranças indígenas, como a demarcação de terras, no Município de Autazes, não avançaram. De acordo com os índios, não dá para negociar outro ponto antes de ser garantida a saída de Rangel.

Pontos
Algumas das reivindicações
Exoneração do administrador regional da Funai, Benedito Rangel de Morais.
Conclusão da demarcação das terras indígenas Mura, no município de Autazes, bem como das demais terras indígenas do Amazonas.
Exoneração do chefe de posto da Funai de Autazes, Aldo Monteiro.
Andamento dos processos de denúncias das irregularidades da atual administração e apuração imediata de novas denúncias.
Implementação de Programas de Desenvolvimento Comunitário para as populações indígenas, visando a auto-sustentabilidade e criando condições para a geração de renda.
Apoio aos estudantes indígenas que já concluíram o ensino médio nos respectivos município e que, muitas vezes, acabam saindo das aldeias por falta de condições. Criação de um programa específico que beneficie as comunidades, conforme a realidade de cada local e discutida com as respectivas lideranças, a fim de corresponder às reais necessidades dos povos indígenas.
Reestruturação do órgão indigenista pelo Governo brasileiro, conforme acordo firmado em campanha no documento "Compromisso com os povos indígenas".

A Crítica, 13/01/2005, p. A1, A8

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