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Índios vivem na miséria e sob violentos conflitos

A Tarde-Salvador-BA
Autor: (Carla Fialho)
18 de Abr de 2002

Quando o País homenageia os primeiros habitantes das terras brasileiras,

amanhã, dia 19 de abril, os índios, pelo menos no sul e no extremo sul da Bahia, pouco têm a comemorar. A situação é de miséria e de violentos conflitos na luta pela terra. Vítimas do descaso de órgão governamentais e do poderio de grandes latifundiários, os índios da região sonham com um futuro de paz e com suas terras demarcadas.
"O abandono é completo. Existem vários casos de fome nas aldeias, frutos da falta de assistência da Fundação Nacional do Índio (Funai) e de projetos voltados para a produção agrícola e desenvolvimento sustentável", afirma Adson Rodrigues, da equipe do Conselho Indigenista Missionário (Cimi).
O cacique Edvaldo Braz, da Aldeia Corumbauzinho, na região de Corumbau, povoado de Prado, confirma o descaso. "Nossa vida é dolorosa, não temos apoio da Funai para investir na agricultura, falta assistência médica e, o pior, nossas terras não são demarcadas. O índio não é respeitado, a nossa luta para retomar terras indígenas das mãos de fazendeiros é muito
difícil", salienta. Ter as terras demarcadas é o sonho dos 10 índios ouvidos pela equipe de A TARDE. Este seria o único caminho, apontado por eles, para cessar o conflito que se arrasta
há anos na região. Entre ameaças de morte e retomadas, a luta para se fazer justiça aos seus antepassadas continua, como está acontecendo agora na região do Monte Pascoal. Um grupo de 100 índios já retomou três propriedades nas mãos de fazendeiros.
A expectativa dos pataxós que vivem conflitos na região de Monte Pascoal e em Corumbau, e dos pataxós hã- hã- hães de Pau Brasil é para que seja finalizado o estudo do grupo técnico, instituído pela Funai em 1999, com a finalidade de estabelecer os limites do território indígena no extremo sul e sul da Bahia. "A preocupação do povo indígena é que o estudo comprove que
as terras são nossas. Nós já temos certeza mas os governantes ainda duvidam disso", disse o vice- cacique, da aldeia de Monte Pascoal, Araçari, salientando por isso, "não tem nada para comemorar no dia 19. Só teria alegria se nossas terras já estivessem demarcadas. Em vez disso só vemos violências contra os irmãos, é um dia de tristeza. Tem morrido muito guerreiro pelo seu direito, o massacre só vai parar no dia em que o governo demarcar todo território indígena", enfatiza.
Como se não bastasse a luta pela terra, os índios ainda enfrentam a luta contra a fome. A realidade das 39 famílias responsáveis pelo Parque Nacional de Monte Pascoal é dramática. A dona-de-casa Madalena vive com os oito filhos e dois netos numa mesma oca na mais absoluta miséria. Num dia de sorte conseguem pescar um peixe para comer com farinha.
Outro problema é a água. Ela tem que andar uma hora e meia para encher os baldes, mas a água está contaminada. "As crianças sempre adoecem com diarréia, estão cheias de verme, pois a água não é tratada", explica. O marido Edvaldo conta que, recentemente, passou por um momento muito triste. "Vi minha filha chorando com fome e não tinha o que dar, fiquei sem saber o que fazer, me deu vontade de ir embora, mas para onde? Fazer o quê?", pergunta.
A jovem Pariride, 25 anos, mãe de dois filhos, diz que a vida do índio é muito triste. "A gente não tem assistência médica, se cai doente tem que curar com remédio do mato; para alimentar
tem que pescar peixe. A única renda era o artesanato mas foi proibido pelo Ibama", relata. O cacique da Aldeia de Monte Pascoal, Joel Braz, reclama que a Funai não dá nenhum suporte para a agricultura. "A produção das fazendas é insuficiente para a população, necessitamos do apoio com alimentação para as famílias", ressalta. O administrador da Funai, Arival Barreira, afirma que o órgão está defasado de pessoal e financeiramente, mas "na medida do possível
temos feito alguma coisa, mas é um direito deles reclamar".

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