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Indios vão organizar I Conferencia Nacional em Belém

Gazeta Mercantil-belém-PA
Autor: Renata Ferreira
07 de Jun de 2001

Diversas tribos indígenas do País vão discutir amplamente, na próxima semana, em Belém, questões importantes sobre a manutenção de suas culturas, auto-sustentabilidade, esporte, educação e participação na política nacional. A I Conferência Nacional dos Povos Indígenas será realizada de quinta a domingo, no Parque dos Igarapés, no bairro do Coqueiro, um complexo turístico de 160 mil metros quadrados, às margens do rio Ariri, repleto de árvores e igarapés, que conta com restaurante, chalés, parquinho, campo de futebol e piscina.O evento reunirá 300 índios de 76 etnias (21 do Pará) de todas as regiões do Brasil. A iniciativa é dos governos do Pará e federal, por meio de um convênio firmado entre a Secretaria Executiva da Justiça, pelo Programa Raízes, e o Ministério da Justiça, pela Fundação Nacional do Índio (Funai). A secretária de Justiça do Pará, Ana Amélia de Figueiredo Sefer, é a supervisora do evento.Os recursos destinados à conferência somam R$ 556 mil. Deste total, R$ 500 mil serão alocados do Orçamento Geral da União, por meio de uma emenda parlamentar do senador Luiz Otávio Campos (sem partido). Os R$ 56 mil restantes são uma contrapartida do estado, via Fundação de Telecomunicações do Pará (Funtelpa). Até agora, o governo federal só disponibilizou R$ 350 mil. O restante, R$ 150 mil, foi adiantado pelo executivo paraense, com expectativa de ressarcimento.A idéia da conferência surgiu, segundo Amaro Klautau, coordenador do encontro, em outubro do ano passado, no final dos III Jogos Indígenas em Marabá. ´Será uma oportunidade de saber qual é o 'pensar índio', já que, não raro, nem a própria população sabe exatamente quais são as reivindicações dos povos indígenas´, afirma. Klautau acredita na repercussão internacional do evento pelo porte e presença de palestrantes atuantes como o índio panamenho Atencio Kuna, que é advogado, Jonathan Wagers, índio norte-americano, Joseph Ole Simel, índio africano massai (caçadores de leão), Lars Grael, secretário nacional de Esportes, e outros. ´Os conferencistas, relatores e coordenadores do evento foram escolhidos pelos próprios índios´, comenta Klautau.A conferência conta também com os conhecidos irmãos Terena, Carlos e Marcos, que vão representar a Funai. Marcos, que é coordenador geral em defesa dos direitos indígenas, da Funai, é também responsável por um dos painéis em discussão. Estarão presentes também grandes lideranças políticas dos índios, como os caciques Raoni e Juruna.Os silvícolas usarão diversos meios de transportes para chegar a Belém como canoa, barco, avião, helicóptero, ônibus e até trem. Ficarão hospedados nos chalés e na área administrativa, que está sendo reformada para recebê-los, no Parque dos Igarapés.Klautau destaca a preparação da Agenda do Novo Século, que será encaminhada ao presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, como um dos pontos altos do evento. ´A agenda vai resumir as grandes propostas das lideranças sobre o destino dos povos indígenas, dentro dos temas abordados na conferência´.Em agosto, o documento será levado ao Congresso Contra a Discriminação que será realizado na África do Sul e contará com a participação de negros e índios. A cultura indígena também terá um papel relevante no encontro. No campo de futebol estão sendo construídas arquibancadas para apresentação de música e dança indígenas. Das 20 às 22h, as etnias Tembé, Wai-Wa e Xicrim do Caeté, as três do Pará, e mais Bororo e Xinguano, do Mato Grosso, vão fazer suas apresentações.Os museus de Belém, Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo enviaram fotos para a exposição fotográfica ´Terra de Índio´ e haverá venda de artesanato indígena. Além disso, uma ´oca espiritual´ será erguida numa clareira para receber um pajé guarani, um poderoso guia místico dos índios, segundo Klautau.Outra iniciativa em prol da educação e cultura dos índios será o lançamento de cartilhas educativas sobre as 39 etnias indígenas do Pará, com mapas ilustrativos, que serão distribuídas nas escolas públicas da rede estadual de ensino.Por decisão do governador do Pará, Almir Gabriel, a Secretaria de Educação (Seduc), por meio do Núcleo de Educação Indígena e Programa Raízes, fará o lançamento das cartilhas na forma bilíngüe. Ou seja, em português e no dialeto das respectivas tribos que receberão as cartilhas, que serão distribuídas em agosto. ´Esse fortalecimento cultural será um marco de reconhecimento para o Pará como uma terra que reconhece o papel do índio´, diz Klautau.A conferência encerrará no sábado à noite, mas as atrações continuam no domingo de manhã, quando um navio da Enasa levará os participantes do porto de Icoaraci até a praça Pedro Teixeira, no centro de Belém. Na praça, acontecerá um ´auto de reconhecimento´, de forma inversa ao ocorrido no Descobrimento do Brasil, com os brancos recebendo os índios e mostrando o resultado da miscigenação da cultura do País (brancos, índios e negros).De forma descontraída e leve, os índios assistirão primeiro a uma apresentação de carimbó da Fundação Curro Velho. Depois, uma quadrilha junina, uma mostra da música brega e outra de diversos sons alternativos. A caminho do antigo galpão de embarque e desembarque de navios Mosqueiro/Soure, será a vez da apresentação da escola de samba ´Crias do Curro Velho´.A festa terminará na Fortaleza de São Pedro Nolasco, um anfiteatro localizado na Estação das Docas, com uma grande confraternização entre a população e os participantes da conferência. ´Nesse momento os papéis serão invertidos e os índios tomarão conta do espetáculo´, diz Klautau, completando que pretende contar, nesse encontro final, com a participação de um grande número de crianças.

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