Diário de Cuiabá-Cuiabá-MT
30 de Ago de 2003
Eles dizem que só abrirão estrada que corta reserva após a presença de representantes da Funai e do Ministério Público
Índio pareci na estrada Nova Fronteira, que liga Campo Novo a Sapezal e encurta a viagem para a hidrovia Madeira-Itacoatiara
Índios de quatro etnias, liderados pelos parecis, fecham amanhã a rodovia Nova Fronteira, que liga os municípios de Sapezal e Campo Novo dos Parecis, no médio norte de Mato Grosso. Eles querem negociar um plano de lavoura mecanizada em terras indígenas.
De acordo com o técnico em indigenismo e administrador substituto da Funai em Tangará da Serra, Martins Toledo de Melo, os índios estão dispostos a só abrir a estrada quando receberem a visita de representantes da Fundação Nacional do Índio e do Ministério Público Federal. Além do presidente, eles querem conversar com integrantes da Coordenação Geral de Patrimônio Indígena e Meio Ambiente e da Coordenação Geral de Desenvolvimento Comunitário da Funai.
Desde a quinta-feira, a Funai em Tangará está alertando os fazendeiros e caminhoneiros que usam a estrada sobre o seu fechamento, que acontecerá por volta das 7 horas de domingo. O bloqueio será erguido em dois pontos - no posto de pedágio do rio Verde e na ponte do rio Papagaio.
Segundo Martins de Melo, os índios parecis se dizem privados de alimento, já que, a despeito do tamanho da reserva, a região é pobre em caça, fruta e peixes. Além deles, participam do ato os irantxes, nhambiquaras e mykus.
Cálculos da Funai mostram que cerca de 400 veículos passam pela rodovia diariamente. O trecho de 65 quilômetros, que corta ao meio a Terra Utiariti, é o caminho mais curto para produtores de soja rumo à hidrovia Madeira-Itacoatiara, em Porto Velho (RO). Sem a estrada, a distância entre Campo Novo e Sapezal fica 214 quilômetros maior, o que faz aumentar o valor frete.
Só poderão passar pela barreira ambulâncias transportando pacientes, imprensa e autoridades judiciais. As empresas de ônibus que atuam na região já anunciaram que mudarão o trajeto.
A Associação Waimaré, que diz representar 500 índios de 13 aldeias, tentou um acordo de parceria com fazendeiros para realizar o plantio de soja. O acordo, com a Agropecuária Bekafarm Ltda, previa o plantio de 500 hectares em locais definidos pela comunidade por um período mínimo de seis anos.
Em seu parecer sobre o assunto, o procurador federal da Funai César Augusto do Nascimento considerou-o lesivo aos índios. "Estamos diante de várias cláusulas obrigacionais, sem contudo vislumbrarmos como serão manejadas essas recíprocas obrigações", escreveu.
As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.