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Índios vão gerir posto de pedágio em MT

FSP, Brasil, p. A11
27 de Out de 2009

Índios vão gerir posto de pedágio em MT
Medida faz parte de acordo entre Funai, Ibama e governo para permitir asfaltamento da estrada que atravessa a área da etnia
Cobrança já é realizada pelos índios de maneira informal há mais de uma década e, segundo a Funai, R$ 240 mil são arrecadados por mês

Rodrigo Vargas
Da agência Folha, em Cuiabá

O governo de Mato Grosso irá construir postos de pedágio para que índios da etnia pareci cobrem pela passagem de carros, caminhões e motos em um trecho de 52 km da rodovia estadual MT-235, que liga os municípios de Sapezal e Campo Novo do Parecis (450 km de Cuiabá). Os próprios índios vão fazer a cobrança.
A medida faz parte de acordo firmado com Funai e Ibama para permitir o asfaltamento da chamada "Rodovia do Índio", que atravessa a área da etnia e foi inaugurada sábado pelo governador Blairo Maggi (PR).
Aprovada pelos plantadores de soja -Sapezal é um dos maiores produtores de grãos do país e sofria com os atoleiros-, a obra também recebeu o aval das duas principais associações que representam os parecis, a Halitinã e a Waimaré.
A institucionalização da cobrança, que já é feita informalmente pelos índios há mais de uma década, poderá ampliar a arrecadação média atual, que segundo a Funai chega hoje a R$ 240 mil mensais -cerca de R$ 8.000 por dia.
A estrada foi aberta em 1984, com um acordo entre uma associação de produtores rurais da região e líderes parecis. Durante o período de chuvas, ficava praticamente intransitável.
Em 2002, as duas associações que representam os índios chegaram a entrar com uma ação judicial para impedir o asfaltamento de uma rota alternativa até Sapezal, que contornava a área dos parecis.
"Há muito tempo os índios buscavam esse entendimento de permitir o asfalto e manter o pedágio", disse o administrador da Funai na região, Carlos Márcio Vieira Barros.
Carros de até quatro toneladas pagarão R$ 10 pela travessia. Acima desse peso, a taxa será de R$ 25. Condutores de motos pagarão R$ 5. O posto deve ser inaugurado em janeiro.
Atualmente, o valor do pedágio "informal" varia de acordo com a disposição dos índios. A verba vai toda para as associações. Com a inauguração do pedágio oficial, o dinheiro continuará sendo administrado pelos índios, mas a Funai vai acompanhar o processo.
Segundo o órgão, será necessário instituir um novo modelo de uso e destinação da verba.
"São 2.000 índios e sempre há o risco de a verba se pulverizar. Mas, se bem empregado, esse dinheiro permitirá investir em obras e melhorar a educação e a saúde nas aldeias", afirmou Barros.
Blairo Maggi se declarou favorável ao pedágio. "Se os brancos cobram, porque o índio não pode cobrar? Eu sempre fui um dos defensores do pedágio."

Antropóloga vê risco para bem estar dos índios

Pesquisadora da etnia pareci desde a década de 1980, Maria de Fátima Roberto Machado, da UFMT, diz que a pavimentação da MT-235 é a "realização do sonho dos que não se conformam com uma suposta ociosidade das terras dos índios". "Não são poucos os exemplos do desastre que são as estradas para as sociedades que não partilham os mesmos códigos culturais que os nossos", disse.

FSP, 27/10/2009, Brasil, p. A11

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