VOLTAR

Índios usam tática de guerra em área invadida na Capital

Correio do Estado-Campo Grande-MS
Autor: Edivaldo Bitencourt
22 de Jun de 2003

As pessoas são proibidas, com ameaças, de entrar no terreno localizado no Jardim Noroeste, que é considerado terra indígena pelos invasores

Cerca de 35 famílias indígenas invadiram, no mês passado, uma área de 10 hectares no Jardim Noroeste, na saída para Três Lagoas, transformando-a numa "aldeia de lona preta". Ao contrário de outras ocupações urbanas, os índios de quatro etnias adotaram tática semelhante às invasões de áreas consideradas território indígena no interior do Estado, onde, mesmo sem arco e flecha, controlam o acesso à propriedade.
Na manhã de ontem, um dos líderes dos guaranis-caiuás, Márcio Tirúbio, acompanhado pela esposa, armada com um pedaço de pau, expulsou a equipe de reportagem do Correio do Estado do local. Ele tentou arrancar o caderno de anotações do repórter e o equipamento do fotógrafo. Alguns indígenas disseram que a imprensa estava invadindo o local, sobre o qual tentam manter o controle total.
No entanto, segundo o organizador da ocupação, o índio terena Milton Miguel, 49 anos, que não está acampado na área, a maioria das famílias não é agressiva como Tirúbio. A área foi ocupada por índios das etnias terena, caiuá, cadiuéu e guató. Desaldeados, eles deixaram suas reservas em busca de emprego e melhor atendimento na cidade.

Sem assistência
"Não somos invasores, estamos assentados e queremos negociar com o dono da área", afirmou Miguel, ressaltando que ainda não sabem a quem pertence o terreno. "É triste falar como invasores de terra, porque (os brancos) ocuparam nosso pedaço", afirmou, defendendo as famílias que invadiram a propriedade localizada ao lado do complexo penitenciário.
Milton Miguel conta que, a princípio, 20 famílias indígenas desaldeadas ocuparam a área. No entanto, quando começou a ocupação, no mês passado, o número de acampados extrapolou o previsto. A Fundação Nacional do Índio (Funai) deu cestas básicas e lonas para os acampados no terreno.
As famílias desmataram a área para construir seus barracos e delimitar os seus lotes com cercas de arame farpado. Cada lote demarcado pelos próprios invasores terá em torno de 12 por 30 metros. O objetivo é encontrar os donos e negociar a aquisição da área pelos índios.
Rosemari Oliveira, 28 anos, morava nos fundos da casa de um parente na Aldeia Urbana Marçal de Souza. Ela e o marido invadiram a área na esperança de obter a casa própria. O casal possui uma renda semanal de R$ 50. Antes de vir à Capital, eles moravam e trabalhavam em fazendas da região de Anastácio. "Queremos encontrar uma solução de forma pacífica", disse Milton Miguel.

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.