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Índios tembés ganham gramática

O Liberal-Belém-PA
28 de Mai de 2006

Tenetehára O lingüista Álvaro Cunha descreveu em livro a língua do povo que vive no alto Guamá

O povo indígena tembé, que vive próximo ao alto rio Guamá, no município de Capitão Poço, acaba de ter sua língua descrita em uma gramática elaborada pelo lingüista e professor Álvaro Cunha. Agora essa etnia poderá perpetuar e documentar suas tradições e histórias em tenetehára, idioma da família lingüística tupi-guarani.

Apesar da quase extinção dessa linguagem, por já haver poucos falantes em área, o que não faltou foi força de vontade da comunidade para ver definitivamente a gramática pronta. Mas o problema vai mais adiante da simples impressão do livro; segundo o cacique da aldeia sede, Naldo Tembé, 'falta o apoio necessário, isto é, verba dos órgãos competentes para patrocinar esse tipo de pesquisa que, em suma, é muito importante para nós, índios da Amazônia'.

Álvaro Cunha também se queixa da indiferença com que algumas autoridades tratam da questão indígena. 'Não foi uma nem duas vezes que, por pouco, não desisti da pesquisa por falta de material. Já estava cansado de clamar às pessoas competentes por recursos, a fim de custear com as despesas da obra; precisei de apoio e quem arcou com tudo fomos nós'.

A gramática da língua tenetehára possui iniciação em fonologia, morfologia e sintaxe, além de um vasto vocabulário no fim da obra. 'É uma ferramenta bem didática, feita para os índios e outros curiosos cuja finalidade é aprender o idioma', afirma Álvaro. O professor já escreveu outra gramática, só que da língua grega, com mais ou menos 200 páginas, e desabafa: 'Rogo às autoridades investidas no poder que viabilizem recursos para estudarmos não só o tenetehára, mas as outras quarenta línguas que o Pará ainda possui; do contrário, perderemos todo esse acervo cultural que nossos antepassados nos legaram.

Conhecedor de outros idiomas, ele está envolvido na confecção do dicionário da língua indígena, que deve estar pronto no segundo semestre deste ano, conta. A língua tenetehára está em extinção no alto rio Guamá e o lingüista vem fazendo um belo trabalho de resgate, revelam os índios. 'O professor Álvaro tem um espírito desbravador e inquieto, não pára um só momento de escrever e pronunciar na língua. Confiamos muito nele pelos frutos já produzidos', revela o cacique Tembé.

De um modo geral, pode-se dizer que os guajajara, ramo oriental dos tenetehára, se localizam no estado do Maranhão, enquanto os tembé, o ramo ocidental, no estado do Pará. Entretanto, uma parte dos tembé vive na margem direita do rio Gurupi, no estado maranhense. Sua autodenominação é tenetehára, que significa gente, índios em geral ou, mais especificamente, tembé e guajajara. Tembé, ou sua variante timbé, constitui um nome que provavelmente lhes foi atribuído pelos regionais.

A preocupação do lingüista, agora, é socializar a gramática para os índios tembés do alto rio Guamá, já que a língua está em extinção e poucos ainda falam o tenetehára, mas para isso é preciso recurso financeiro para promover esse tipo de pesquisa.

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