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Índios serão consultados sobre mineração, mas não vão decidir, diz ministro

Valor Econômico, Brasil, p. A4
06 de Mar de 2019

Índios serão consultados sobre mineração, mas não vão decidir, diz ministro

Por Marcos de Moura e Souza

Abrir as terras indígenas para empresas privadas de mineração. Foi esse um dos principais anúncios que o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, fez na segunda-feira a investidores e mineradoras no Canadá. A ideia tem sido uma das bandeiras do presidente Jair Bolsonaro (PSL) e está
prevista na Constituição de 1988, mas nunca nesses 31 anos, foi regulamentada pelo Congresso.
Ontem, em Toronto, onde participou de um dos principais eventos globais da mineração, o Prospectors and Developers Association of Canada (PDAC),
Albuquerque deu mais detalhes dos planos do governo durante entrevista ao Valor. "A Constituição é bem clara e também os acordos internacionais dos quais o Brasil é signatário: as comunidades indígenas têm que ser consultadas."
A consulta, no entanto, não significará - pelos planos do governo - que um povo indígena terá autonomia para vetar ou liberar, por exemplo, a instalação de uma mina de ouro a céu aberto em suas terras. "Isso é um processo, não é chegar lá e dizer eu 'quero minerar na sua terra, posso ou não posso?'", disse Albuquerque à reportagem.
"Tem que ser respeitado também o licenciamento ambiental. Tem um processo a ser feito. E aí no momento em que houver, dentro do arcabouço legal, uma decisão por parte de quem quer que seja, ela será tomada."
Terras indígenas demarcadas se estendem por 12% do território brasileiro. E em algumas delas a presença de garimpos ilegais é antiga, conhecida por autoridades e, por vezes, fonte de disputas sangrentas com os índios. Os diamantes nas terras do cinta-larga, em Rondônia, e o ouro nas terras ianomâmi, em Roraima, são dois exemplos.
Para Albuquerque, o caminho é abrir as terras indígenas para empresas de forma que, segundo disse, "traga benefícios para essas comunidades e também para o país". O Canadá é um dos países com experiências já consolidadas de mineração em terras indígenas e que envolve pagamento de royalties a esses povos ou parcerias operacionais com eles.
No Brasil, a discussão tem enfrentado resistência por parte de organizações indígenas, ambientais e de acadêmicos, que lembram dos inevitáveis impactos que um empreendimento de uma grande mineradora, com barragens, escavações, explosões causaria no ambiente, na estrutura social e cultura desses povos, particularmente dos que vivem em áreas mais remotas.
O ministro disse no fim de semana que o governo pretende levar o assunto para debate com organizações, especialistas e, sobretudo, no Congresso. Quais empresas teriam prioridade para iniciar explorações em terras indígenas? Aquelas que antes ainda da Constituição solicitaram autorização para fazê-lo? Ou as que fizeram requerimentos nos anos subsequentes? Ou essa lista seria zerada e criado um novo critério de acesso? "Isso ainda não foi analisado", disse ele.
"O Estado tem que conhecer o potencial mineral das terras indígenas. Claro que nem em todas essas áreas haverá potencial", afirmou Roberto Xavier, diretor-executivo da Agência para o Desenvolvimento Tecnológico da Indústria Mineral Brasileira (Adimb). Para ele, nos casos em que a mineração for viável, as comunidades indígenas teriam de ter uma participação transparente e positiva para elas.

O repórter viajou para Toronto a convite da Agência para o Desenvolvimento Tecnológico da Indústria Mineral Brasileira (Adimb)

Valor Econômico, 06/03/2019, Brasil, p. A4

https://www.valor.com.br/brasil/6146705/indios-serao-consultados-sobre-…

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