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Índios retornam à aldeia após 24 anos de expulsão

CIR-Boa Vista-RR
13 de Ago de 2003

No dia 10 de agosto, um grupo de 21 indígenas da aldeia Muriru, ultrapassou os limites impostos pela cerca da fazenda Itamarati, do deputado estadual Urzeni Rocha (PSL) e levantou acampamento nas terras tradicionais da comunidade, após 24 anos de expulsão e refúgio em Moskou, aldeia vizinha. As duas terras indígenas foram homologadas pelo presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva, no primeiro semestre de 2003.

Às 10 horas da manhã nublada do último domingo, a comunidade avançou além do cercado e começou a construir uma maloca no mesmo local de onde fora retirada à força pelo "ex-proprietário" da fazenda Itamarati, conhecido por Zé Lima. De caminhão todos foram levados para a aldeia Moskou, a 41 quilômetros de Muriru.

Alberto Augusto Vicente, tuxaua de Muriru, era criança quando o fazendeiro chegou com dois caminhões e obrigou a todos os índios saírem da terra. "As famílias saíram de caminhão levando apenas roupas e panelas. O fazendeiro disse que o lugar dos índios era no Moskou, porque lá tinha tuxaua. Naquela época a gente não tinha o tuxaua", lembra.

O vice-coordenador do Conselho Indígena de Roraima - CIR, Noberto Cruz da Silva, acompanhou a comunidade na volta para casa. Ele abriu a porteira da fazenda para o grupo entrar e fazer morada. "Meia hora depois, chegou o vaqueiro dizendo que a gente tinha que sair, senão, ele ia avisar o 'dono' da fazenda. Eu disse: pode avisar, não estamos invadindo a terra de ninguém, aqui é terra indígena demarcada e homologada", explicou.

Os indígenas ergueram no dia da chegada um barracão de lona onde passaram a noite. No dia seguinte, às 11h40 chegaram quatro homens num carro particular, armados com revólveres e duas escopetas e deram ordens para todos saírem da fazenda, caso contrário, seriam levados à força e colocados à margem da estrada.

"Eles estavam irritados e ninguém se identificou. Tentei mostrar o mapa da terra indígena e o decreto de homologação, assinado pelo presidente Lula, mas eles não quiseram nem olhar. Apenas disseram que a gente tinha que sair naquele momento da fazenda do deputado Urzeni Rocha", conta Noberto.

Não havendo acordo, o vice-coordenador avisou o incidente ao administrador da Funai, Martinho Andrade, através de telefone via satélite. "Passei o telefone para uma pessoa que se apresentou ao Martinho como sendo o delegado James, do Município do Bonfim, só nesse momento eles se acalmaram", afirma o vice. O administrador interveio para resguardar a integridade física dos indígenas e pediu 24 horas para obter mais informações e tentar resolver o impasse junto a Justiça Federal.

Um dos supostos policiais civis ameaçou tomar uma câmera fotográfica após ser fotografado pelo secretário de comunicação do CIR, Davison Buckley. "Você ta procurando briga" disse ao jovem wapichana, que teve que entregar o filme para o delegado James. "Levaram só o filme, porque telefonei novamente para o Martinho, senão, tinham levado a máquina à força", explica Dávison.

Os policiais foram embora, mas o impasse continuou depois que o deputado Urzeni Rocha mandou colocar cadeados no portão de entrada da fazenda. "Ninguém entra e nem sai", foi o recado recebido. O portão só foi aberto às seis horas da tarde do dia 12 (terça-feira), porque um bebê de nove meses e uma criança de dois anos ficaram doentes com diarréia. Os dois foram atendidos no posto de saúde da aldeia Moskou.

A terra Muriru tem 5,5 mil hectares e dois terços estão invadidos pela fazenda Itamarati. O Conselho Indígena de Roraima solicitou pressa da Funai na indenização e retirada do invasor.

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