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Índios reivindicam escola em bairro

Correio do Estado-Campo Grande-MS
Autor: Daniella Arruda
20 de Abr de 2002

As 60 famílias que moram no local querem ensino fundamental e alfabetização de jovens e adultos, com metodologia de estudo bilíngue

A construção de uma escola representa hoje a grande promessa de melhoria para a comunidade indígena do Conjunto Habitacional Água Bonita, que completa no próximo mês um ano de implantação em Campo Grande. Nas 60 casas, construídas através do Programa Habitacional Che Roga Mi, do Governo estadual, moram em torno de 300 pessoas, 100 delas crianças, pertencentes às etnias kadiwéu, guarani, caiuá e terena. Pelo projeto que vem sendo pleiteado pela comunidade junto ao Governo do Estado, a escola oferecerá ensino fundamental até a quarta série e alfabetização de jovens e adultos, com metodologia de estudo bilíngue.

Segundo a presidente da Associação de Índios Kaguateca Marçal de Souza, Marta Guarani, a obra vai resolver as dificuldades de deslocamento hoje enfrentadas pelas crianças que vivem em Água Bonita. Hoje, elas precisam percorrer a pé um trecho de mais de um quilômetro para poder chegar ao ponto de ônibus, e daí para a escola mais próxima, situada no Jardim Anache.

Por outro lado, para quem necessita estudar ou trabalhar à noite, a via de acesso à vila representa um risco para a segurança, em decorrência da falta de iluminação. Marta Guarani informou que está sendo solicitado o rebaixamento da rede existente ao longo da estrada, bem como a instalação de luminárias no trecho.

Ela reconhece que a maior necessidade da Aldeia Água Bonita é uma escola na própria comunidade. Outra reivindicação é a instalação de um posto de saúde que atenda a região. A unidade de saúde mais procurada está situada no Bairro Nova Bahia, também distante.

Desemprego

Além das dificuldades estruturais, a Aldeia Água Bonita também enfrenta o fantasma do desemprego. A maioria dos moradores não encontra trabalho no mercado formal, por falta de qualificação profissional, e em decorrência da discriminação racial. As famílias sobrevivem com a assistência prestada pelos programas estaduais Bolsa-Escola e Segurança Alimentar. A expectativa é que essa situação melhore com a implantação de uma horta comunitária, que ficará sob responsabilidade das mulheres da aldeia.

Para a presidente da Associação Marçal de Souza, a maior dificuldade que o índio encontra para adaptar-se à área urbana é que não é possível trabalhar no plantio como ocorre nas aldeias convencionais, e o deslocamento até o centro da cidade é muito difícil.

Mesmo a linha de ônibus que hoje atende a comunidade e fica a 1.050 metros da aldeia só foi implantada há três meses, depois de diversas solicitações, assim como o orelhão do centro comunitário, o único telefone da área. No entanto, acredita Marta Guarani, o ideal seria uma linha de ônibus regular. Hoje há transporte coletivo somente três vezes durante a manhã (5 horas, 6h40min, 7h30min), dois horários à tarde (17h e 18h), e à noite, às 19h e 23h.

População

Embora em escala menor que a verificada no Loteamento Social Marçal de Souza, próximo ao Bairro Tiradentes, o crescimento populacional é uma tendência que já vem sendo observada em Água Bonita, segundo Marta Guarani. "Muitas famílias têm vindo para cá. As aldeias cada vez mais pioram, e o índio está mudando para a cidade, atrás de educação, saúde e trabalho. Afinal, assim como todo cidadão, ele tem liberdade de escolher um lugar melhor para trabalhar e criar seus filhos", comentou.

Apesar de reconhecer esse direito legítimo, a presidente da Associação de Índios Kaguateca Marçal de Souza não deixa de manifestar preocupação com o futuro da aldeia. "No pedacinho de chão onde vivemos hoje, tem muitas crianças, e o crescimento delas é muito rápido. Logo formam família, e como será então a vida e o destino dos filhos delas? Será que a aldeia terá capacidade de agregar todo mundo? Essa é a minha preocupação", conclui.

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