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Índios recebem repórteres a bala em MS

OESP, Nacional, p. A6
21 de Jan de 2004

Índios recebem repórteres a bala em MS

José Maria Tomazela
Enviado especial

Os índios caiovás-guaranis têm armas de fogo e estão prontos para resistir à desocupação das 14 fazendas que ocupam nos municípios de Iguatemi e Japorã, na fronteira de Mato Grosso do Sul com o Paraguai. A reportagem do Estado foi recebida ontem com tiros na Fazenda São Jorge, em Iguatemi, invadida desde dezembro. Pelo menos dois, entre dezenas de índios que cercaram a equipe, não estavam armados só com arcos, flechas e bordunas. Um deles tinha um revólver e outro, uma espingarda. Outros também estavam armados porque, a distância, foram ouvidos vários disparos de armas de fogo. A ordem de despejo foi dada no dia 16 pelo juiz federal Odilon de Oliveira, do Fórum de Dourados, e o prazo para a saída pacífica venceu ontem.

A operação de despejo está sendo preparada pela Polícia Federal. O superintendente da PF em Mato Grosso do Sul, Wantuir Jacini, está negociando o envio de reforços. No fim da tarde, cerca de 3,7 mil índios continuavam nas fazendas invadidas e seus líderes avisavam que haverá luta e mortes caso haja tentativa de retirá-los. "Tem gente aqui que quer a carne de branco.

Nós conhecemos o mato, o branco não conhece. Podem matar muitos de nós, mas muitos deles também vão morrer", disse o cacique. Ele não quis se identificar nem mesmo na sua língua. O cacique disse que os índios foram abandonados pela Fundação Nacional do Índio (Funai). "Onde estão? Sumiram todos."

Ameaças - De acordo com o cacique, os índios estão armados por causa das ameaças feitas pelos fazendeiros. "Soubemos que eles estão armando uns duzentos jagunços para tirar a gente à força daqui.
Eles que venham, podem matar a gente, mas muitos vão tombar."

Os índios usaram barro para pichar o carro da reportagem com palavras indígenas como yvy katu, que em guarani significa "terra de índios". Eles não permitiram que fossem feitas fotos. "Jornalista só vem aqui para ganhar dinheiro à custa do índio", reclamavam. Parte do grupo queria tomar a equipe como refém.

O cacique se opôs. "É bom que eles vão para ver o que os fazendeiros estão tramando." Segundo ele, os caciques receberam informações de que os "brancos" iriam fechar as estradas de acesso às áreas invadidas na noite de ontem. "Se barrarem, a gente vai passar assim mesmo."

Um grupo de fazendeiros reuniu-se ontem em Iguatemi com o objetivo de discutir a questão. Segundo o produtor rural Márcio Margatto, eles querem que a decisão do juiz Oliveira seja cumprida de forma imediata. "Há um consenso de que precisamos fazer alguma coisa, pois parece não haver interesse em realizar o despejo determinado pela Justiça." Os índios já invadiram mais de 9 mil hectares e, segundo Margatto, estão matando bois.
"Eles foram vistos carregando sacos com carne na estrada."

PM prende 4 caiovás com cavalos furtados

Quatro índios caiovás-guaranis, moradores da aldeia Porto Lindo, em Japorã, Mato Grosso do Sul, foram presos ontem à tarde com cavalos furtados. Os animais tinham sido retirados das Fazendas Remanso e São Jorge, ambas invadidas pelos caiovás.

Os índios Alfredo Martins, Estevão Velasques, Donizete de Souza e Jovenil Silva foram detidos por policiais militares quando cavalgavam em uma estrada rural da região.

Levados à delegacia da cidade de Iguatemi, disseram que encontraram os animais na estrada. Eles seriam liberados depois de prestar depoimentos. O inquérito será encaminhado à Polícia Federal. (J.M.T.)

OESP, 21/01/2004, Nacional, p. A6

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