VOLTAR

Índios realizam protesto em Caucaia

O Povo - http://www.opovo.com.br/opovo/fortaleza/915834.html
Autor: Tiago Braga
03 de Out de 2009

Os índios tapebas saíram de suas aldeias e foram às ruas de Caucaia. Durante a caminhada, o grupo protestou contra a demora na demarcação das terras indígenas. Vestidos a caráter, os índios chamaram a atenção dos moradores da cidade

Tiago Braga
tiagobraga@opovo.com.br
03 Out 2009 - 20h12min

Eles caminharam pelas ruas do Centro de Caucaia para mostrar que existem. Neste sábado, pintaram o corpo com a tinta vermelha extraída do urucum, vestiram a tanga e o cocar feitos com a palha de carnaúba e saíram de suas aldeias. Aproveitaram o Dia do Índio Tapeba, comemorado em 3 de outubro, para protestar pela demarcação de suas terras. ``Todos os anos, a gente faz a marcha na nossa localidade. Esta é a primeira vez que estamos realizando no Centro de Caucaia. Precisamos do apoio da cidade para a nossa causa``, convida Adelson Silva, 32, líder de uma das aldeias Tapeba.

Erguendo faixas e cartazes, centenas de índios tapebas percorreram as ruas do Centro. A saída foi da Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres. Antes da caminhada, foram recolhidas assinaturas de apoio à demarcação. ``Queremos chamar atenção das pessoas e das autoridades``, reforça Francilene de Sousa, 24, que ensina em uma das escolas indígenas dos tapebas. ``Lá, todo professor também é índio. A gente sempre fala da nossa cultura para os alunos``, frisa.

Marciane Nascimento, 17, sabe que muitos dos costumes indígenas se perderam no tempo. Por isso, sempre procura conversar com os mais velhos. ``A gente escuta eles para resgatar um pouco da nossa cultura que, infelizmente, está se perdendo``, lamenta. Nas escolas, os alunos aprendem a fazer o cocar, as vestimentas, os colares e os utensílios indígenas.

``O mais difícil de fazer é o cocar``, conta Jonas Mesquita, 12. O menino está no quinto ano e diz que pretende continuar morando na aldeia. ``Gosto muito de lá. Quero ficar trabalhando com artesanato.`` Sebastião do Nascimento, 80, se preocupa com o futuro de sua aldeia, onde é líder. Lá, moram 35 famílias que trabalham como agricultores, plantando para consumo próprio. ``Antes de morrer, queria ver nossa terra demarcada``, diz.

Sebastião tem nove filhos, 38 netos e 14 bisnetos. A família tenta preservar os costumes. ``O que todo mundo faz é o ritual do Toré``, comenta. Ele explica: ``a gente faz uma roda e vai dançando, ao som do maracá``. O instrumento indígena também foi usado durante a caminhada, neste sábado. ``É um som bonito. As roupas e os colares também chamam a atenção``, repara a dona-de-casa Maria Oliveira, que estava passando perto da igreja e resolveu parar para observar a caminhada. ``Era bom se demarcassem logo as terras deles. É um direito``, lembra.

E-MAIS

> O cocar é um adorno usado na cabeça por muitas tribos indígenas. No caso dos tapebas, é confeccionado com a folha da carnaúba.

> O urucum é uma planta comum na América Tropical que produz um pó vermelho.

> O Dia do Índio Tapeba não é uma data reconhecida oficialmente, mas a comunidade celebra todo ano.

> Nos anos anteriores, os participantes da marcha se concentravam na sede do distrito de Capuan e se dirigiam ao Terreiro Sagrado dos Pau-Branco, na Aldeia Lagoa dos Tapebas. Participam da caminhada índios de 12 aldeias.

> A marcha é uma lembrança do aniversário de morte daquele que é considerado o primeiro cacique tapeba, o Cacique Perna-de-pau.

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.