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Índios querem tombamento de imóveis construídos por Rondon

Midianews-Cuiabá-MT
19 de Mar de 2004

Índios de oito nações querem o tombamento do patrimônio arquitetônico de 11 imóveis localizados na Aldeia Umutina, em Barra do Bugres (168 km ao Norte de Cuiabá). As casas foram construídas entre os anos de 1943 e 1945 pelo extinto Serviço de Proteção ao Índio (SPI), sob o comando do marechal Cândido Mariano da Silva Rondon.

Um dos imóveis foi habitado por Rondon durante processo de pacificação dos umutina com os demais grupos que dividem o mesmo território: paresi, nambikwara, kaiaby, terena, irantxe, bororo e bakairi. Ao todo, vivem na aldeia 367 índios - 198 homens, 169 mulheres e 136 crianças de 0 a 12 anos.

Nesta sexta-feira (19), uma equipe da Superintendência de Política Indigenista, órgão ligado à Casa Civil, esteve no local para verificar o processo de restauração e viabilização de recursos com entidades, Governo do Estado, além de parcerias. "Já que perdemos até a nossa língua original falada entre os índios, não podemos perder o restante do nosso patrimônio", disse a cacique, Creuza Soripa, primeira liderança feminina numa aldeia em Mato Grosso.

Segundo José Seixas da Silva e Arnaldo Borges Filho, responsáveis pelos projetos especiais e pela área de saúde dos índios, da Superintendência de Política Indigenista, respectivamente, o Governo do Estado, através da Casa Civil, não medirá esforços para concretizar um sonho não só das nações indígenas, como da população de Mato Grosso.

Em péssimo estado de conservação, nas dez casas localizadas na aldeia - cada habitação tem dois quartos, cozinha, sala - moram famílias de várias etnias. O imóvel principal, onde morou Marechal Rondon, é ocupado pelo chefe do posto da Fundação Nacional do Índio (Funai), André Marciano de Almeida.

Pintado nas cores azul e branca, o imóvel ocupado por Rondon tem duas salas, três quartos, cozinha e área de serviço. O piso é de tijolo à vista. As paredes são de duplo tijolo e todo o madeiramento é de aroeira da região. As telhas também são da região. Todo o imóvel, ainda em regular estado de conservação, foi construído pelos índios em parceria com funcionários do SPI.

Considerada na época uma obra arrojada de arquitetura, a casa apresenta nas paredes da sala principal pinturas de índios com Rondon. As obras foram pintadas na década de 50 pelo enfermeiro pernambucano do SPI, Joaquim Bezerra de Melo. "Feliz da nação indígena que puder conservar um imóvel como esse porque isso aqui é uma história não só de Mato Grosso como do Brasil", comentou André Almeida.

HISTÓRIA - Pacificador das nações indígenas com quem trabalhou ao longo de vários anos e patrono das comunicações, Cândido Mariano da Silva era descendente de índios Terena, Bororo e Guaná. Ele nasceu em 5 de maio de 1865, em Mimoso, distrito de Santo Antônio do Leverger. Perdeu os pais ainda menino e foi criado por um tio, cujo sobrenome - Rondon - Cândido Mariano adotou anos mais tarde, com autorização do Ministério da Guerra.

Rondon foi professor da Escola Liceu Cuiabano. Em 1881, entrou para o Exército e dois anos depois para a Escola Militar da Praia Vermelha. Em 1886 ele foi encaminhado à Escola Superior de Guerra e assumiu um papel ativo no movimento pela proclamação da República. Por meio de exames prestados em 1890, graduou-se como bacharel em Matemática e em Ciências Físicas e Naturais. Foi aluno de Benjamim Constant, e a ideologia positivista o guiou por toda a sua vida.

Em 1889, Cândido Mariano foi nomeado ajudante da Comissão de Construção das Linhas Telegráficas de Cuiabá a Registro do Araguaia, que era chefiada pelo coronel Gomes Carneiro. Por sua indicação, Rondon veio a assumir a chefia do distrito telegráfico de Mato Grosso, em 1892. Desde então, chefiou várias comissões para instalar linhas telegráficas no interior do Brasil, identificadas, genericamente, pelo nome de Comissão de Construção de Linhas Telegráficas e Estratégicas de Mato Grosso ao Amazonas, mais conhecida como Comissão Rondon.

Em 1955, o Congresso Nacional conferiu-lhe a patente de marechal. Já cego, faleceu no Rio de Janeiro, em 19 de janeiro de 1958, com quase 93 anos.

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