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Índios queimam projeto de Lula

Amazonas Em Tempo-Manaus-AM
Autor: Patrícia Almeida e Joaquina Marinho
07 de Nov de 2003

Um ritual de pajelança sobre as terras sagradas do cemitério indígena na praça D. Pedro II, no centro de Manaus, seguido de uma passeata que culminou com a queima da réplica do documento de compromisso do Governo Federal com os povos indígenas encerraram ontem, I Fórum Permanente dos Povos Indígenas da Amazônia e deram início à Campanha Nacional e Internacional em Defesa dos Direitos dos Povos Indígenas, capitaneado pela Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB). "Estamos decepcionados com o presidente Lula e muito apreensivos com essa mosoridade", lamentou o coordenador da Coiab, Gecinaldo Cabral do povo saterê.

A queima da réplica do documento, segundo Gecinaldo, é uma resposta à indiferença do governo que até o momento não sinalizou com nenhuma ação concreta sobre como será tratada a questão indígena. Antes da eleição para presidente da República, Lula esteve reunido na Amazônia com lideranças indígenas de todo o Brasil e assinou um compromisso formal se comprometendo com a causa. "Esse compromisso nunca vigorou.

"Queremos que o governo brasileiro desperte para a questão indígena pois as propostas de políticas públicas atuais estão muito acanhadas", criticou o coordenador tesoureiro da Coiab, Genival de Oliveira Santos, da etnia mayoruna.

A manifestação começou na praça Dom Pedro, Centro, onde recentemente arqueólogos descobriram urnas funerárias indígenas enterradas. As lideranças abraçaram simbolicamente a praça e seguiram em passeata pela avenida 7 de Setembro, até a praça do Congresso. "Estamos de luto pela violência praticada contra nossos povos ao longo dos séculos, e pela omissão do governo em relação às nossas causas", avaliou Genival.

Durante o protesto, 45 lideranças do Conselho Indígena de Raposa Serra do Sol, de Roraima, acusaram o governo de retardar a homologação de suas terras por causa de interesses econômicos. A terra indígena Raposa Serra do Sol foi identificada e demarcada por portaria da Fundação Nacional do Índio (Funai) de 1993, e declarada posse permanente aos povos macuxi, ingaricó, patamona, taurepang e wapichana, através da portaria ministerial número 820, de 1998.

"Não admitimos mais esse descaso do governo com nossas necessidades. Queremos formar uma parceria verdadeira com os dirigentes do País, para vermos tornarem-se reais os sonhos que tínhamos com esse governo (Lula)", afirma.

Durante o fórum, as lideranças indígenas discutiram quatro temas fundamentais: demanda por terra, saúde, educação e projetos de desenvolvimento sustentável. Os participantes foram divididos em seis grupos para fazer um levantamento das principais dificuldades das etnias.

O resultado dessa avaliação será enviado para o governo Federal, com o objetivo de mostrar o ponto de vista dos povos indígenas sobre assuntos que lhes dizem respeito. Na manhã de ontem, estavam prontos os relatórios sobre "etnodesenvolvimento" e "biodiversidade e recursos naturais".

Em relação ao etnodesenvolvimento, Genival afirma que apesar do assunto ser pauta em muitos seminários, os moradores das aldeias sequer sabem o que significa o tema. "Queremos projetos de etnodesenvolvimento que partam dos povos, que sejam compreensíveis para as comunidades, e não propostas feitas em gabinete", diz.

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