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Índios protegem mais a floresta

CB, Brasil, p. 9
14 de Abr de 2006

Índios protegem mais a floresta
Estudo de satélite prova que reservas indígenas da Amazônia têm índice de desmatamento menor que o verificado em áreas de conservação federais, que recebem mais dinheiro do governo

Paloma Oliveto

Com R$ 0,57 por hectare recebido do governo para proteger o meio ambiente, os índios que vivem em terras homologadas conseguiram impedir que o desmatamento avançasse na Amazônia. Levantamento realizado pela Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) e pelo Instituto de Conservação Ambiental (TNC) aponta que 74% das terras indígenas da região têm taxas de desflorestamento menores que as áreas do entorno.
O diagnóstico, feito a partir de imagens de satélite e pesquisa de campo, mostrou que nas aldeias a taxa de desmatamento é de 1,1%, enquanto que nas unidades de conservação ambiental federais, que recebem R$ 1,02 por hectare, o índice foi de 1,52%.
Segundo Helcio Souza, do Programa Amazônia da TNC, a contenção do desmatamento em terras indígenas equivale a 3,5 milhões de hectares de floresta que deixaram de ser destruídas.
"Isso mostra que estamos resistindo ao crescimento das cidades ao avanço das estradas, das cidades e do agronegócio, as grandes ameaças à floresta. O povo indígena sabe como fazer uso da terra", defende João Neves Galibi, coordenador do departamento etnoambiental da Coiab. Existem 270 áreas indígenas na Amazônia, que somam 90 milhões de hectares.
O presidente da Coiab, Jecinaldo Barbosa Cabral, diz que os principais vilões da Amazônia brasileira são a expansão da monocultura de soja e algodão, a construção de estradas e a ação dos grileiros e madeireiros ilegais que atuam na região. Cabral diz que nem o entorno do Parque Nacional do Xingu está conseguindo resistir à ação devastadora.
"Pelo satélite, é possível ver um grande cinturão de desmatamento. Mas dentro da reserva, os índios ainda conseguem impedir a derrubada da floresta", afirma.
Pioneirismo
O projeto de monitoramento da preservação ambiental das terras indígenas começou há dois anos, durante uma conferência indígena. Com a parceria do TNC e da Fundação Ford, a Coiab inovou na técnica de obtenção dos índices de desmatamento, unindo a tecnologia satélite com pesquisas de campo realizadas por jovens indígenas, que receberam capacitação.
Para calcular o risco de impacto ambiental nas regiões pesquisadas, além das imagens, os técnicos calcularam a distância das terras indígenas de estradas, rios e afluentes, a existência ou não de estradas próximas, a expansão populacional de cidades vizinhas, entre outras.
O estudo "Diagnóstico sobre Terras Indígenas Ameaçadas na Amazônia" foi entregue ao Ministério do Meio Ambiente. Os índios vão propor que, a exemplo do que acontece nas unidades federais, o órgão crie e financie projetos de conservação dentro das áreas indígenas.

CB, 14/04/2006, Brasil, p. 9

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