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Índios preparam evento que mostra Brasil à França

A Crítica, Cidade, p. C5
02 de Nov de 2004

Índios preparam evento que mostra Brasil à França
Delegação formada por 16 jornalistas chegou ontem a Manaus para encontro com índios

Ana Célia Ossame
Da equipe de A Crítica

Uma delegação de 16 jornalistas franceses chegou a Manaus ontem para o primeiro contato com líderes indígenas da Amazônia, visando a preparação de matérias sobre o evento denominado o Ano do Brasil na França-2005. A iniciativa, segundo o presidente da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), Jecinaldo Sateré prevê a realização de uma extensa programação de eventos culturais brasileiros na França, mas será ampliada pelas organizações indígenas que aproveitarão a oportunidade para denunciara indecisão do governo Lula com relação à demarcação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima e dos Cinta Larga, em Rondônia.
"Queremos mostrar nossa cultura à Europa, mas não vamos perdera oportunidade de mostrar que apesar de sermos os responsáveis pela preservação da Amazônia, somos ameaçados de perder nossas terras disse Jecinaldo, explicando que o objetivo é sensibilizar os europeus da importância estratégica da demarcação das terras indígenas. "Em 20% do território da Amazônia há preservação porque existem terras indígenas", assegurou o coordenador da Coiab, lamentando que o governo brasileiro esteja sendo incoerente com os compromissos históricos com os povos indígenas, faltando com vontade política para honrar esses compromissos.
Jecinaldo revela que 50 lideranças e representantes indígenas da Amazônia irão à França, entre as quais a cantora Cláudia Tikuna e artistas dos povos caiapó e xavante, entre outros. Haverá também apresentação da cultura do guaraná, plantada pelos índios em Maués.
Caciques
A reunião de ontem contou com a presença do cacique Luís Sateré, 46, da comunidade indígena radicada no bairro da Redenção, Zona Centro-Oeste, que reúne 85 pessoas. "Queremos pedir apoio para a produção de artesanato aqui na cidade, mas também apoio para a saúde e educação dos nossos parentes que vivem nas aldeias", afirmou o cacique, que de dois em dois meses vai ao Município de Maués visitar as comunidades. Bernardino Almeida Pereira, 43, líder de 12 famílias ticuna que vive no bairro Cidade de Deus, Zona Leste, vai pedir recursos para incrementar a produção de artesanato. Segundo ele, quando faltam recursos não há como produzir artesanato, fonte de renda das famílias. Há 15 anos em Manaus, os ticuna procuram não perderas referências.

Verificando as belezas

Os jornalistas franceses, segundo o também jornalista e historiador Ribamar Bessa Freire, amazonense que leciona na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e acompanhava a delegação,vieram ver e conhecer de perto o que será levado para a exposição, realizada anualmente com diferentes países. 0 importante, segundo o professor, é fazer com que essa exposição desperte não só os franceses para a beleza da arte e da cultura dos índios, mas também os brasileiros que muitas vezes rejeitam as raízes culturais indígenas.
A exposição terá como tema Brésil, Brésils (Brasil, Brasis) uma homenagem à diversidade e à modernidade da Cultura Brasileira, é promovida pelo Ministério da Cultura, Unesco e Governo Francês, cujo objetivo é não ser só uma demonstração da diversidade cultural do País, mas a ocasião de apresentar o país como uma potência em todos os seus aspectos (econômico, industrial, comercial, social e turístico, disse a antropóloga Regina Muller, da equipe de curadores da exposição cultural que vai realizar espetáculos de teatro, música e dança, exposições de artes plásticas, design e mostras cinematográficas, entre outras manifestações artísticas, em todo o País.
De acordo com o ministro Gilberto Gil, o objetivo do Ano do Brasil na França é mostrar aos franceses uma imagem fiel do país sul-americano, "além dos clichês de futebol, praia e carnaval", disse Gil, explicando que o trabalho se intensificou nas últimas semanas. Houve um total de 800 projetas apresentados na área das artes plásticas, música, dança, cinema e outros. Uma comissão escolheu uma centena entre estes e o processo de seleção continua. Paralelamente, grandes empresas brasileiras participam deste projeto e se associam a empresas francesas para desenvolver seu próprio programa, que não só abarcará Paris, mas outras cidades francesas.

Em números

25 mil visitantes é a estimativa de público para a exposição do Ano do Brasil na França-2005, criada em Acordo Cultural firmado entre os dois países.
0 projeto faz parte das Saisons Culturelles "trangères en France", que desde 1985 homenageiam diferentes países convidados divulgara cultura.

A Crítica, 02/11/2004, Cidade, p. C5

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