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Índios pedem a liberação do corpo de índio Macuxi assassinado em Roraima

Site da Funai
Autor: Simone Cavalcante
21 de Mar de 2003

As lideranças Macuxi, Jacir José de Souza, presidente do Conselho Indígena de Roraima (CIR) e Telmo Mota, da Associação dos Povos Indígenas de Roraima (APIR) estiveram nessa quarta-feira (19), em Brasília para pedir a liberação do corpo do índio Macuxi, Aldo da Silva Mota, assassinado em Roraima na primeira semana deste ano e que permanece no IML/DF, apesar do laudo definitivo estar concluído desde o dia 28 do mês passado. Segundo o administrador da Funai em Boa Vista (RR), Martinho Alves da Silva, que acompanhou as lideranças, a família está aflita com a situação e quer realizar o funeral do seu parente.

O legista de Brasília, Eduardo Reis, responsável pela autópsia que constatou a morte de Aldo Mota por hemorragia interna causada por traumatismo torácico transfixiante, ocasionado por projétil de arma de fogo disparado de cima para baixo, explicou que a justiça federal de Roraima concedeu a solicitação feita pela Polícia Federal para coleta de uma amostra para exame de DNA. Porém, há mais de dois meses após a execução do índio Macuxi, sua família continua aguardando a autorização judicial para o translado do corpo até a aldeia Willimon, onde Aldo nasceu e será sepultado de acordo com as tradições indígenas.

Para as lideranças Macuxi, a forma brutal como foi executado revela ao mundo como são tratados os índios que defendem a área contínua Raposa Serra do Sol e a conivência das instâncias governamentais com a impunidade. O corpo de Aldo foi encontrado na Fazenda Retiro, do vereador Francisco das Chagas (Chico Tripa), localizada no município ilegal chamado de Uiramutã, instalado no interior da Terra Indígena Raposa Serra do Sol. Os assassinos ocultaram o cadáver durante uma semana numa cova rasa até que 'avisados' por urubus, os indígenas da região encontraram o corpo já em decomposição. Sobre o assassinato há suspeitas da participação de políticos e autoridades do Estado, contrários à demarcação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol. Segundo relato dos índios, antes de ser assassinado, Aldo havia recebido recado de um empregado do vereador apelidado de "Bofete" para pegar uma rês da aldeia que estava na área da fazenda. Os peritos do Laboratório Antropologia Forense do IML Brasília visitaram o local do crime e descobriram que após a execução o corpo foi arrastado por mais 300 metros até a cova em que foi enterrado.

A execução de Aldo Mota não é um fato isolado em trinta anos de luta pelo reconhecimento da terra Raposa Serra do Sol, disputa que envolve fazendeiros, garimpeiros, políticos e militares. O CIR elaborou um dossiê sobre a impunidade em Roraima, onde cita 20 homicídios, 21 tentativas de homicídio, 54 ameaças de morte, 51 agressões, 80 casas destruídas e 71 prisões ilegais até o ano de 1999.

O CIR solicita investigação criteriosa e punição exemplar dos assassinos de Aldo Mota para que não venha a ser mais um registro na história de impunidades dos agressores dos povos indígenas no estado de Roraima. A organização alerta, mais uma vez, ao Governo Federal que a demorada na homologação da terra indígena e a presença dos invasores são as principais causas de conflitos.

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