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Índios pedem a FHC demarcação de Terras

Folha de São Paulo (São Paulo - SP)
Autor: Lucas Figueiredo
24 de Ago de 1996

Índios pedem a FHC demarcação de terras
Presidente diz que visita dele à região não significa que haverá mais verbas para o projeto Calha Norte

Lucas Figueiredo
Enviado especial a São Gabriel da Cachoeira (AM)

O caráter militar da viagem do presidente Fernando Henrique Cardoso à Amazônia foi quebrado por um pedido de demarcação de terras feito pelos índios da região do Alto Rio Negro, no Estado do Amazonas, próximo à fronteira com a Colômbia e a Venezuela.
Em São Gabriel da Cachoeira, a 860 km de Manaus, representantes da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro pediram ao presidente a agilização na demarcação e homologação de cinco áreas indígenas da região.
As áreas já foram criadas oficialmente, mas falta a realização do trabalho de campo para delimitar o espaço das reservas.
Os terrenos, que são contínuos, somam 10,8 milhões de hectares (ultrapassando em 1 milhão de hectares a reserva ianomâmi).
Seca
Os índios querem que a demarcação seja iniciada o mais rápido possível para aproveitar o início do período de seca na região.
A federação representa quase 10% da população indígena do país -25 mil índios de 19 povos diferentes, que vivem espalhados em mais de 600 aldeias.
Os índios contam com o apoio da organização não-governamental ISA (Instituto Socioambiental), que ajudou a conseguir os recursos para a demarcação junto a instituições alemães.
"O dinheiro para demarcação está assegurado, por meio de convênios com o G-7 (grupo dos sete países mais ricos do mundo). Falta resolver as questões burocráticas", disse o secretário-executivo do ISA, Beto Ricardo.
A resposta de FHC não foi divulgada, já que os jornalistas tiveram que deixar São Gabriel da Cachoeira antes do fim da visita presidencial, atendendo determinação do protocolo militar.
Calha Norte
A visita de FHC a bases militares na Amazônia não deve fazer com que seja aumentada a liberação de recursos para o projeto Calha Norte (vigilância da fronteira na região), como pretendia o Exército.
O presidente disse que a estada dele na Amazônia não significa que haverá mais verbas para o projeto. "A destinação de recursos depende de análises técnicas e trâmites burocráticos", afirmou.
Antes de visitar o 5 Batalhão de Infantaria de Selva, em São Gabriel da Cachoeira, Fernando Henrique esteve em Iauaretê, a cerca de 1.000 km de Manaus, na divisa com a Colômbia, onde visitou o pelotão de fronteira.
"Esse é um Brasil novo, que tem uma população que precisa ser cuidada e que tem presença militar que precisa ser mantida. Estamos muito bem protegidos", afirmou o presidente.

Presidente diz que é 'meio chefe'

Do enviado especial

Durante encontro com caciques em São Gabriel da Cachoeira, o presidente Fernando Henrique Cardoso disse que é "meio chefe".
A brincadeira foi feita quando FHC abraçou dois líderes indígenas em solenidade na 1ª Companhia de Engenharia do Exército.
"Aqui tem três grandes chefes. Três não, dois e meio. Eu sou meio", disse o presidente.
Descontraído, FHC posou para os fotógrafos após apresentação de dança folclórica indígena.
Pouco antes, em Iauaretê, a cerca de 1.000 km de Manaus, na fronteira com a Colômbia, FHC havia feito outra brincadeira com o fato de a região ser habitada majoritariamente por índios tucanos.

FSP, 24/08/1996, Brasil, p. 1-11

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/1996/8/24/brasil/25.html
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/1996/8/24/brasil/26.html

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