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Índios passam fome em RO

Maria Inês Hargreaves
Autor: Maria Inês Hargreaves
06 de Set de 2003

A fome, a miséria, a falta de assistência médica e o progressivo empobrecimento vem produzindo conseqüências irreparáveis aos índios da etnia Cinta Larga, em Espigão do Oeste, como resultado da falta de uma política de apoio à expansão agrícola em território indígena e da indefinição de Brasília quanto à exploração dos recursos minerais, atividade que não é proibida pela Constituição Federal, mas que precisa ser regulamentada.
A situação de desespero em que vivem os povos Cinta Larga foi constatada "in loco" na última quinta-feira pelo governador Ivo Cassol, que visitou aldeias, conversou com lideranças indígenas e firmou o compromisso de parceria com os índios pelo desenvolvimento econômico da região. "Eu quero a verdade", disse o governador, ao comentar o bombardeio de informações que têm sido publicadas
sobre o garimpo, sem que a imprensa tenha o acesso e a liberdade para entrar na região e conhecer a realidade de vida desses povos.
Ivo Cassol disse ter ficado surpreso com o trabalho desenvolvido pelos próprios índios, que construíram escolas, residências, postos de saúde e até estradas sem
o devido apoio da Fundação Nacional do Índio (Funai). O cacique Pio Cinta Larga explicou que "os recursos da Funai não chegam às aldeias, uma situação que precisa mudar". Segundo o líder Cinta Larga, os índios da Reserva Roosevelt estão dispostos a plantar e colher, mas dependem de condições técnicas e financeiras para que a sobrevivência das tribos não fique na dependência única e exclusiva da Funai.
O governador, que defende a legalização da atividade garimpeira, propôs aos caciques que abram as portas das aldeias para a entrada da imprensa para mostrar a luta dos índios pela sobrevivência. Enquanto as mulheres buscam a
beira do Rio Roosevelt o peixe que vai alimentar os filhos, os homens passam dia e noite no garimpo, carregando motores sobre os ombros e escavando a região do garimpo à procura de minérios, que são valiosos, mas que continuam sendo
vendidos a preços irrisórios aos atravessadores.
A maior parte do diamante produzido na Reserva Roosevelt estaria sendo levada ilegalmente para fora do país, sem que o Município, o Estado e a União possam recolher os impostos devidos para garantir aos índios os investimentos públicos
necessários ao crescimento econômico de suas regiões. Atualmente, são mantidas na Reserva Roosevelt quatro barreiras da Polícia Militar, impedindo a passagem de garimpeiros que ameaçam entrar ilegalmente em terra indígena a qualquer custo.
O governador Ivo Cassol convidou a equipe do Globo Repórter para mostrar ao país a situação de penúria e de progressivo empobrecimento vivida pelos índios Cinta Larga, o que agora depende da liberação dos próprios caciques, que se sentem "machucados" com a imagem negativa de seus povos construída ao longo da história.

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