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Índios paraibanos aprendem tupi

Correio da Paraíba (João Pessoa - PB)
Autor: Chico Noronha
22 de Out de 2000

Três líderes e educadores que militam na área das políticas públicas de educação desenvolvidas especificamente junto à população indígena estarão representando a Paraíba em um projeto que visa ensinar tupi aos índíos de nossa região, com início marcado ainda para este ano.

São eles: Caboclinho, Manoel Eufrásio e lolanda Mendonça, que antes de iniciarem as aulas na Baia da Traição e em outros pontos de resistência dessa cultura, no dia 11 de dezembro próximo participam de um curso intensivo na USP-Universidade de São Paulo. Roteiro

O roteiro de atividades em função da efetivação desse curso vem sendo coordenado pelo professor Eduardo Navarro, oriundo daquela instituição de ensino superior paulista, e prevê ainda uma audiência com o subsecretário de educação estadual Francisco Sales Gaudêncio e da responsável pela educação indígena em nossa região, Dulce Magalhães.

Esse encontro está confirmado para amanhã , no Centro Administrativo, em Jaguaribe, a partir das 15h00. Durante o restante da semana ele estará debatendo com estudantes, antropólogos, técnicos dos orgãos governamentais, representações dos movimentos sociais organizados, gente ligada às ciências sociais, no seminário que o governo estadual e entidades que atuam na questão indígena programado para acontecer na Espep- Escola de Serviço Público da Paraíba.

Segundo especialistas, o curso trata-se de uma grande achado em termos de educação indígena, considerando-se que pela primeira vez será observado a o respeito às duas línguas envolvidas. Educação

Essa era uma das principais metas do Conselho da Mulher Indígena Potiguara, criado há cerca três anos, e que no decorrer desse período de organização extrapolou o espaço reservado à discussão da questão de gênero.

Esse debate contempla naturalmente a educação indígena, através da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Em seu artigo 78 a lei determina que a educação dos índios merece ser incluída como dever pelo Ministério da Educação Oferecendo uma educação bilingüe e intercultural com o intuito de possibilitar aos índios a recuperação das suas memórias históricas, bem como a reafirmação das suas identidades étnicas e a valorização das suas línguas. Outro ponto que recebe tratamento especial no documento é a garantia do acesso às informações, conhecimentos técnicos e científicos. Os especialistas afirmam que o Brasil vem descumprindo a Constituição quando não garante aos índios o acesso às suas próprias raízes culturais. Cartilha ainda não existe

Os organizadores do curso que será ministrado pelo professor Eduardo Navarro na Paraíba destacam que o método de ensino a ser utilizado é o contido em uma de suas publicações: Método Moderno de Tupy Antigo- A Língua do Brasil dos Primeiros Séculos, editado pela Editora Vozes. Ainda Não foi elaborada uma cartilha para servir de instrumento de acompanhamento das populações indígenas interessadas, mas o que se definiu até agora é que uma comissão integrada por professores de formação do magistério indígena assumirá essa tarefa.

Origem
A origem do projeto vem de maio passado, quando Eduardo Navarro esteve pela primeira vez em nosso estado, cumprindo agenda de palestras e visitas, e surgiu a idéia do curso bilingue. Agora o linguista, pesquisador e professor de Tupy na Universidade de São Paulo retorna para ficar cerca de seis meses em contato direto com os povos indígenas locais, sobretudo os agentes multiplicadores. A expectativa é de que cerca de 8 mil pessoas sejam atendidas pelos novos ensinamentos.

Eduardo conhece a realidade desse povo e testemunha que existem mais de 10 mil tupismos em nosso idioma e mais de 50 mil batismos geográficos na nossa língua. Ele registra que "temos um forte componente indígena que se acomoda nos subterrâneos de nosso modo de vida. Representamos um encruzilhada de origens e um superexposição de tradições encapsuladas na língua. O Tupy é um desses componentes mais valioso. Importância do resgate

Nem os próprios brasileiros percebem a importância do resgate da identidade do povo indígena. Os brasileiros, que possuem um traço forte de sua formação advindo do modo de vida do índio.

O professor da USP e linguista Eduardo Navarro, que prepara o lançamento de um dicionário em Tupy no próximo ano destaca que a indiferença de boa parte da população paraibana se assemelha ao desconhecimento do brasileiro. Origem

Ele cita como maior exemplo a origem da palavra Paraíba na língua Tupy, que significa Mar Ruim. Coincidindo ou não com a realidade, o que ele destaca é que embora esteja situada no ponto mais oriental das Américas, o mar que banha nosso estado não é muito propício à navegação. Eduardo ressalta que na Paraíba existe apenas um porto, localizado em Cabedelo, cidade que enquadra-se na grande João Pessoa.

O brasileiro se mantém alheio à importância da cultura indígena em setores como a culinária e a geografia, nos quais proliferam termos como pururuca, paçoca, pipoca, massaramduba, ingá, peroba, mingau, jacarandá, jurema, urubu, piranha, tatu. Conhecimento é cidadania

Tendo como lema maior a promoção da cidadania através do conhecimento dos seus direitos e ainda da recuperação de suas memórias ancestrais e do reconhecimento histórico-cultural no cotidiano da educação, a Comissão Potyguara objetiva corrigir (o termo correto é mesmo esse: corrigir) os setores da sociedade que seguem ignorando, discriminando, encurralando o seu povo. Inviabilizando desta maneira a reestruturação da sociedade indígena e sua cultura secular.

O que os grupos dominantes de hoje necessitam saber é que os Potyguara no século XVI era senhores absolutos de todo o litoral nordestino, dominando 400 léguas da Paraíba ao Maranhão. Sua população era estimada nesse período em cerca de 200 mil habitantes, avaliando-se apenas a comunidade paraibana. O povo Potyguara, que funciona como público alvo prioritário do projeto coordenado pelo pesquisador Eduardo Navarro, significa em Potyguara antigo "comedores ou catadores de camarão. Eduardo ressalta que embora tivessem uma cultura oral de transmissão de suas cultura e tradições, o tupi foi escrito por invasores e missionários.

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