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Índios montam guarda e fiscalizam acesso à área Raposa/Serra do Sol

Folha de Boa Vista-Boa Vista-RR
Autor: SÍLVIO SOUZA
15 de Jan de 2004

Um grupo formado por mais de 50 índios interditou, desde a tarde de terça-feira - com pedaços de pau e troncos de madeira - a ponte sobre o rio Contão, que dá acesso ao Município de Uiramutã.

A barreira, segundo um dos líderes do movimento, é para dar continuidade ao movimento contra a homologação em área contínua da reserva Raposa/Serra do Sol. Os indígenas impedem a entrada de pessoas estranhas, entre as quais, missionários e representantes de ONG's. Eles pretendem ficar no local por tempo indeterminado e dizem que se não fizerem isso os estrangeiros dominarão a área.
A decisão de montar o bloqueio na entrada do Município foi definida na assembléia realizada no último final de semana, entre comunidades indígenas. Em princípio, a reunião seria para avaliar os resultados conquistados com a mobilização e definir as próximas ações do grupo.

"Desocupamos o prédio da Funai e fizemos nossa assembléia com mais de mil índios. Decidimos fechar a entrada para fiscalizar melhor e proteger nossas comunidades. Não queremos que pessoas estranhas continuem circulando livremente, manipulando os índios e insuflando a guerra entre as tribos", declarou o presidente da Sociedade de Defesa dos Índios Unidos do Norte de Roraima (Sodiur), Silvestre Leocádio.

Ele acredita que a entrada indiscriminada dessas pessoas nas aldeias, seria para trabalhar a favor de organismos estrangeiros. Isso teria influenciado a divisão entre comunidades e incentiva a briga entre os povos indígenas.

Lideranças indígenas dizem que o bloqueio é pacífico. Os índios estariam na barreira orientados para deixarem passar qualquer cidadão, desde que se identifique. "Todos têm o direito de ir e vir e garantimos isso. Somos brasileiros e a terra é nossa. Estamos controlando apenas a entrada de estrangeiros", informou o tuxaua Amazonas, um dos líderes do movimento.

Por sua vez, Gilberto Macuxi, presidente da Associação Regional Indígena dos rios Kinô, Cotingo e do Monte Roraima (Arikon), disse que 14 tuxauas estão à frente do bloqueio guardando a entrada que dá acesso à reserva Raposa/Serra do Sol.
Para as lideranças indígenas o resultado das manifestações não foi o esperado, mas avaliam como positivo. A divulgação pela imprensa para todo o Brasil sobre a problemática indígena vivida pelo Estado foi a grande conquista do movimento.
O modo como vem sendo abordado o movimento em alguns veículos de imprensa preocupa as lideranças. Segundo elas, a afirmação de que os índios são manipulados por fazendeiros e produtores é mentirosa. Esclarecem que a iniciativa do movimento partiu deles. Com a ajuda da comunidade se mobilizaram e conseguiram a repercussão esperada.

MARCHA - Além do bloqueio na entrada do Município de Uiramutã, Silvestre Leocádio contou que o grupo se reunirá nos próximos dias, tentando viabilizar a ida de 100 índios a Brasília. A marcha é uma tentativa de pressionar o Governo para que os recebam em audiência.

Durante esse encontro eles pretendem expor as possíveis conseqüências da homologação em área contínua para as comunidades indígenas e não-indígenas do Estado. Irão solicitar que o Governo Federal consulte a população antes de tomar qualquer decisão.

"Mais uma vez iremos propor a realização de um plebiscito. Fizemos um documento com a assinatura de todos os índios contrários a homologação em área contínua e levaremos ao presidente. Somos a maioria. Não um grupo, como andam dizendo", observou Leocádio.

FEDERAL - Uma equipe da Polícia Federal viajou na tarde de ontem ao Município de Uiramutã para verificar como está a situação. O superintendente interino da PF, Ianê Leal, disse que só após o relatório da equipe é que a PF pretende adotar as medidas necessárias. Até o fechamento da matéria a equipe não havia retornado.

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