Folha de Boa Vista-Boa Vista-RR
09 de Jan de 2004
Após 72 horas em posse do prédio da Funai (Fundação Nacional do Índio), as lideranças indígenas reafirmaram ontem que não desocuparão a sede do órgão enquanto não tiverem o posicionamento do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, do presidente da Funai, Mércio Pereira Gomes ou do presidente da República, Lula da Silva.
Eles querem que o Governo Federal garanta que homologará a Raposa/Serra do Sol em ilhas, e não de forma contínua. Os índios também reivindicam que seja eleito um representante da comunidade indígena para assumir a administração da Funai.
"Não aceitamos a permanência dos funcionários no local e queremos que o diretor da Funai, Martinho Alves, seja destituído do cargo", afirmou o presidente da Aliança de Integração e Desenvolvimento das Comunidades Indígenas de Roraima (Alidcirr), Anísio Pedrosa Lima.
Pedrosa disse também que as negociações com relação a permanência dos funcionários do órgão não foram aceitas pela administração. "Demos a eles o direito de trabalharem, mas eles não concordaram com alguns acordos que apresentamos".
NACIONAL - Os indígenas aproveitaram a reunião para protestar contra informações publicadas na imprensa nacional. Para eles, estes veículos estão distorcendo a realidade da situação fundiária do Estado e ainda, que o ministro da Justiça desconhece o pensamento dos segmentos indígenas.
"O ministro da Justiça está equivocado em afirmar que a maior parte dos índios de Roraima é a favor da homologação. As informações que a mídia nacional está passando não procedem, pois, não somos 20%, ou seja, a minoria que quer a demarcação em ilhas e sim, 80% que não querem a homologação da Raposa em área continua", afirmou Pedrosa.
Segundo o presidente, muitos índios das comunidades da Raposa/Serra do Sol e da maloca do Napoleão estão se manifestando em prol da demarcação em ilhas.
TRIBOS - De acordo com informações dadas por Anísio, as tribos favoráveis à demarcação em ilhas são as seguintes: Ingaricó, Taurepang, Macuxi e Wapixana. "Isso quer dizer que somos a maioria se comparada em nível de Região Norte", explicou.
O tuxaua Amazonas afirmou que os padres, Ronildo Franca, César Vellaneda e o missionário Carlos Martinez, que estavam até ontem à tarde em poder dos índios na Maloca do Contão, foram bem tratados.
O tuxaua comentou que a idéia de aprisionar os religiosos não partiu da Associação dos Arrozeiros e sim dos próprios índios. "Em nenhum momento pensamos em maltratá-los, deixando-os sem alimentos e água. Muito pelo contrário, tratamos deles até melhor do que nossos filhos. O exame de corpo de delito irá comprovar que nenhum tipo de agressão foi feito a eles pela nossa comunidade", afirmou.
ÍNDIOS - Mais índios vindos de diferentes aldeias do Estado chegaram ontem para reforçar o movimento. A expectativa que nos próximos dias o número de acampados no prédio da Funai chegue a 300, vindos de comunidades que habitam a região da Raposa/Serra do Sol.
LIMINAR - O advogado de defesa dos índios, Luiz Valdemar Albrecht disse não ter conhecimento de alguma liminar expedida pelo juiz federal, Helder Girão Barreto, mandando que os indígenas desocupem a sede da Funai.
"Negociamos com a Polícia Federal para que os índios permanecessem na sede da Funai, em troca da liberação de computadores existentes no órgão e o acesso dos funcionários da instituição. Os indígenas estão honrando o acordo feito por escrito esperando que eles cumpram a parte deles".
ESTRANGEIROS - O advogado informou que a detenção dos religiosos foi feita após a constatação de que se tratavam de estrangeiros.
"E como regra em todo o mundo, para um estrangeiro permanecer em outro país é preciso que estejam com suas situações regularizadas. Depois de feito o exame de corpo de delito para comprovar que os religiosos não foram agredidos, serão encaminhados à PF, para investigar suas documentações estrangeiras".
LIMINAR - Conforme informou o superintendente da PF, Ianê Linário Alves, até às 18h, de ontem, não era do seu conhecimento qualquer decisão judicial mandando os indígenas de desocuparem a sede da Funai.
"A única liminar que tenho conhecimento até agora foi a que exigiu a retirada dos agricultores que se encontravam na sede do Incra. Pode acontecer de ser expedida outra, mas não poderá ser cumprida se ultrapassar às 18h". ( J.T )
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